José Eduardo Rebelo, coordenador do Observatório do Luto em Portugal, analisa a tragédia em Pedrógão Grande e defende a “necessidade do apoio ao luto especializado”.
O responsável pela criação do Espaço do Luto escreve sobre a tragédia e a forma como as entidades devem abordar as famílias.
“O país encontra-se em choque com as perdas de vidas humanas causadas pelos incêndios em Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró do Vinhos. A dimensão da tragédia é avassaladora, pelo número de vítimas mortais e de danos materiais verificados.
As populações afetadas encontram-se numa aflição pungente, atónitas e desassossegas com a insegurança afetiva provocada pela privação dos entes queridos e pelo receio quanto ao presente e ao futuro, motivado pelos danos ocorridos nos seus bens, eventualmente no próprio lar.
O apoio às pessoas que perderam entes queridos é, na vivência inicial do choque, em que prevalece a negação pela surpresa da morte e o torpor pela repulsa da tragédia sucedida, deve ser de conceder um espaço seguro para que tomem consciência da realidade.
Facultar o acesso ao corpo dos familiares mortos, acercar dos próximos, auxiliar nas tarefas práticasd e subsistência, possibilitar a expressão de sentimentos e dar respostas verdadeiras, simples, sintéticas e calorosas a todas as questões colocadas pelo enlutado são os passos necessários para um começo sadio do processo do luto.
A vivência global do choque decorre, em regra, num período curto, durante as exéquias, eventualmente um pouco mais, tendo em consideração os lutos múltiplos por perda de vários familiares e de bens.
Correspondendo ao momento em que os enlutados deixam cair as suas barreiras de defesa, até cerca de um mês após a perda, o luto assume uma nova dimensão, de vivências globais de descrença e reconhecimento, sendo necessário um outro acompanhamento.
O apoio ao luto, a partir do choque, deve ser auxiliado por Conselheiros do Luto, em sessões de apoio pessoal e familiar e em grupos de partilha, num tempo prolongado, para proporcionar o acompanhamento adequado aos indivíduos e às comunidades afetados pelas perdas.
Portugal já dispõe de sete de dezenas de Conselheiros do Luto, muitos deles a colaborar com a APELO–Associação do Apoio à Pessoa em Luto, especializados no apoio ao luto de pessoas, famílias e comunidades.
Após a resolução das problemáticas emergentes da tragédia, quando os enlutados necessitam de se virar para si próprios e para a adversidade e o sofrimento pessoal, as instituições oficiais de segurança social e as autarquias devem congregar esforços para facilitarem um plano de apoio comunitário ao luto, continuado ao longo de vários anos, dado ser este um problema de saúde pública”.