Rui Martinho, investigador do Instituto de Biomedicina (iBiMED) da Universidade de Aveiro, e Rui Silva, investigador do Algarve Biomedical Center Research Institute (ABC-RI, Universidade do Algarve), são dois dos autores do estudo publicado na revista Nature Communications que resulta de uma colaboração com a Universidade de Bergen, na Noruega. Em causa está uma alteração na estrutura química das proteínas que as protege de se degradarem, preservando função muscular durante o envelhecimento.
O estudo agora publicado traz importantes descobertas associadas ao envelhecimento e, mais especificamente, à sarcopenia, uma doença conhecida pela perda significativa de massa muscular e que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Sendo comumente identificada como uma condição geriátrica, a perda de massa muscular afirma-se, no entanto, como um dos primeiros sinais de envelhecimento tendo especial impacto na qualidade de vida e na capacidade física dos idosos, conduzindo a um aumento das quedas e das fraturas e tendo como consequência a necessidade de internamentos hospitalares.
Apesar do impacto da doença, os mecanismos celulares envolvidos na sarcopenia não se encontram ainda completamente compreendidos, motivo que dificulta o desenvolvimento de tratamentos para atrasar ou inverter a perda de função muscular associada à idade.
Tendo como base a ideia de que a compreensão destes mecanismos poderá vir a ser crucial “para o desenvolvimento de tratamentos direcionados”, a equipa de investigação, composta por Rui Martinho (Universidade de Aveiro), Rui Silva (Universidade do Algarve) e Sylvia Varlad e Thomas Arnesen (Universidade de Bergen, Noruega), procurou, com este estudo, identificar os mecanismos envolvidos na perda de função muscular associada ao envelhecimento, tendo conseguido demonstrar que uma alteração na estrutura química das proteínas – denominada de Acetilação N-terminal – protege da perda de função muscular associada ao envelhecimento.
Mecanismo pelo qual a acetilação N-terminal protege as proteínas
O estudo, realizado tendo como modelo a mosca da fruta, um dos modelos com o genoma mais semelhante ao do Ser Humano, mostrou que a acetilação N-terminal protege um conjunto de proteínas existentes nas células, da sua degradação. Para chegar a esta conclusão os investigadores manipularam um conjunto específico de genes por forma a compreender o mecanismo pelo qual a acetilação N-terminal protege as proteínas de se degradarem, preservando, assim a função muscular durante o envelhecimento.
De acordo com os investigadores, “esta modificação, ao proteger estas proteínas da degradação, protege também da perda de função muscular associada ao envelhecimento”.
Repare-se que estas descobertas podem ser especialmente relevantes uma vez que, como afirma o estudo, “todos os mecanismos celulares descritos estão também presentes em linhas celulares humanas”, existindo dados indiretos que parecem sugerir uma relação entre esta modificação e a propensão para a atividade física em humanos.
Note-se que, nos humanos, a sarcopenia antecede, com frequência, o desenvolvimento de outras doenças associadas ao envelhecimento, sendo, por isso, de especial relevância pensar as implicações desta investigação na promoção de um estilo de vida saudável.
Texto e foto: UA