O inquérito “Cuidados de Saúde em Oncologia: a visão dos doentes”, promovido pela Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), concluiu que os portugueses consideram que têm acesso dificultado aos tratamentos mais avançados, porque o sistema desvaloriza o impacto destes na qualidade de vida do doente.
O inquérito teve como objetivo analisar a perceção dos doentes e sobreviventes de doença oncológica sobre os cuidados de saúde em Oncologia. As conclusões serão discutidas amanhã no Congresso Nacional de Oncologia, que decorre a partir de hoje e até 29 de Outubro, no Centro de Congressos de Aveiro.
O inquérito com os doentes esteve disponível online entre os dias 18 de setembro de 2017 e 08 de outubro de 2017 através de uma plataforma online com sistema de preenchimento e recolha de participações. O universo de inquiridos é constituído por indivíduos de ambos os sexos, doentes ou pessoas com antecedentes de doença oncológica, residentes em Portugal. Teve um total de 333 participações.
O inquérito de perceções desenvolvido pela SPO mostrou que 63% dos inquiridos concorda que existe a ideia, entre a população portuguesa, que os doentes oncológicos não têm acesso aos tratamentos mais avançados, porque estes são percecionados como demasiados caros tendo em conta o impacto na sobrevida do doente.
Gabriela Sousa, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia, admite que este é um tema sensível que mostra diferentes realidades muito associadas a atos de gestão (com áudio)
Ainda assim, o impacto financeiro é apresentado como a menor das preocupações de um doente oncológicos. Dos inquiridos, apenas 2% apontam o impacto financeiro como principal preocupação em relação à doença. 60% dos inquiridos concordam ainda que em Portugal existem demasiadas assimetrias regionais no que diz respeito à prevenção e tratamento do cancro e 59% concordam que em Portugal falta implementar um programa de rastreios organizados de âmbito nacional.
No que diz respeito ao tratamento, os doentes são unanimes: 81% afirmam que foram envolvidos nas decisões relativas ao tratamento e 68% consideram este envolvimento muito importante. A clareza da comunicação e o esclarecimento da informação são os fatores que mais valorizam numa consulta. 42% colocam a satisfação com a equipa médica como o fator que mais valorizam durante o tratamento. É por estas razões que 64% preferem falar com o médico em caso de dúvidas sobre a doença ou o tratamento.
“É através destes inquéritos que se torna possível ter uma perspetiva da realidade dos doentes oncológicos e disponibilizar dados nacionais que nos permitam compreender a forma como os doentes vivem a realidade da doença oncológica em Portugal, integrando a perspetiva do doente nas políticas de saúde em Portugal”, afirma Gabriela Sousa, presidente da SPO.
Num inquérito realizado em 2015 a profissionais de saúde ligados à oncologia, as conclusões iam mais longe: 98% admitiam que a comunidade científica em Portugal não tem as mesmas condições financeiras para a investigação comparativamente com outros países da União Europeia; 90% afirmavam que o Governo português não faz o investimento necessário para que os doentes tenham acesso às terapêuticas mais avançadas e eficazes. Ideias que também são partilhadas por cerca de 60% dos doentes oncológicos.
Os dados serão apresentados e debatidos no segundo dia do Congresso, esta sexta, às 16h, numa sessão sobre “Inovação e Sustentabilidade do SNS”. Este debate contará com a participação do diretor executivo da APIFARMA, Heitor Costa, da presidente da Administração Central do Sistema de Saúde, Marta Temido, do vice-presidente do INFARMED, Rui Ivo, do presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço, do presidente do Conselho de Administração do IPO do Porto, Laranja Pontes, e a representante da Federação de Associações de Doentes Oncológicos, Tamara Milagre.