No final de dezembro de 2020 iniciou-se a administração das primeiras vacinas contra a covid-19 em Portugal.
Entre a crença absoluta de que representavam o princípio do fim da pandemia e as mais rebuscadas teorias da conspiração, uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) quis perceber se os portugueses estavam disponíveis para tomar a vacina e quais os fatores que poderiam estar associados à hesitação vacinal: mais de 30 por cento dos inquiridos estavam preocupados com a eficácia da vacina.
O estudo, realizado entre 21 de abril e 10 de maio de 2021, incluiu um questionário online a 1062 professores (educação pré-escolar, ensinos básico, secundário e superior) e a 890 profissionais de saúde (médicos, farmacêuticos, enfermeiros e dentistas) e um questionário por entrevista telefónica assistida por computador a 602 idosos não institucionalizados.
O trabalho foi coordenado por Teresa Herdeiro, investigadora do Instituto de Biomedicina (iBiMED).
A investigação foi também assinada por Tânia Silva e Marta Estrela, igualmente investigadoras daquela unidade de investigação da UA, e contou com a participação de Fátima Roque e de Vítor Roque do Instituto Politécnico da Guarda, de Eva Gomes, da Universidade do Porto, e de Adolfo Figueiras, da Universidade de Santiago de Compostela.
De uma forma geral, sublinha Teresa Herdeiro, “os resultados mostraram que quem tinha maior preocupação quanto à segurança e eficácia das vacinas, era também mais cético em relação à vacinação contra a covid-19”.
Este dado foi transversal aos três grupos em estudo (profissionais de saúde, professores e população idosa).
“É igualmente importante salientar que os participantes no estudo que apresentavam maior confiança nas entidades e instituições de saúde, também apresentavam maior predisposição a aceitar a vacinação. Estes dados mostram a importância das instituições de saúde na transmissão da informação às populações”, alerta a investigadora.
Teresa Herdeiro revela que “embora a maioria dos participantes tivesse consciência dos benefícios da vacinação, uma pequena, mas significativa proporção dos inquiridos mostrou preocupação sobre a eficácia da vacina e seus efeitos indesejáveis, e alguns tencionavam recusar a vacinação”. De uma forma global, aponta, “os resultados obtidos neste estudo evidenciam uma elevada confiança da população na vacinação contra a covid-19”.
Tomar ou não tomar?
Cerca de 60 por cento dos profissionais de saúde e idosos e aproximadamente metade dos professores já tinham sido vacinados com a primeira dose, na altura da realização do estudo.
Por outro lado, cerca de 10 por cento de todos os participantes referiram que não estavam dispostos a receber a vacina quando esta lhes fosse disponibilizada.
Embora os participantes estivessem conscientes do potencial da vacinação para pôr fim à pandemia da covid-19, principalmente através da prevenção da infeção e das complicações associadas, o estudo conclui que uma grande proporção dos inquiridos (superior a 30 por cento) se mostrou cética em relação a este resultado.
A hesitação na vacinação, aponta o trabalho, estava principalmente relacionada com a incerteza sobre a eficácia e possíveis efeitos indesejáveis da vacina, particularmente entre professores e profissionais de saúde (cerca de 50 por cento), e não com a origem do fabricante da vacina, salientando a necessidade de aumentar a confiança na vacina.
Mais de 75 por cento dos participantes consideraram as autoridades competentes como uma fonte de informação fiável relativamente à vacinação contra a covid-19.
O estudo conclui ainda que, enquanto cerca de 90 por cento dos professores e profissionais de saúde gostariam de ser testados quanto à resposta imunitária obtida após infeção por covid-19 ou vacinação, apenas cerca de dois terços dos idosos partilhavam o mesmo desejo.
Texto e foto: UA