Depois do Sindicato das Pescas do Norte também a Mútua dos Pescadores manifesta preocupação pelos eventuais impactos na pesca da instalação de parques eólicos ao largo da costa continental portuguesa.
É a reação à apreciação pública do projeto que visa a instalação de oito áreas potenciais para a captação de energia eólica ao longo da costa continental.
A Mútua diz que as áreas indicadas e a forma como todo o processo está a ser desenvolvido “está a causar grande indignação junto dos profissionais, empresas e organizações representativas do setor piscatório nacional”.
Estas áreas, onde se prevê a instalação de torres eólicas, irão abranger, na sua totalidade, cerca de 3.393,44 km2 e a Mútua diz que vai conflituar com a atividade pesqueira.
“A dimensão da área a ocupar concorre diretamente com os pesqueiros tradicionais onde operam as nossas embarcações de pesca. Estes parques eólicos serão instalados a profundidades entre os 75 e os 200m e a distâncias compreendidas entre as 5,7 e as 30 milhas náuticas (NM)”.
Lamento quanto aos impactos para a pesca do arrasto e do cerco, atividades praticadas na área costeira.
“As áreas previstas irão afetar a atividade dos vários segmentos de pesca (arrasto, cerco e polivalente), impactará diretamente na vida de cerca de 5700 pescadores, responsáveis por cerca 7 milhões de euros de pescado descarregado nas lotas das regiões afetadas. Para além dos impactos diretos, dever-se-á ter em linha de conta que por cada posto de trabalho criado diretamente na pesca corresponde a cinco postos de trabalho criados nas atividades conexas. Os impactos socioecónomicos para estas comunidades serão de grande relevo e com consequências difíceis de prever”.
Apesar de reconhecer a “extrema importância” do reforço da capacidade de produção energética no país, defende que não é menos estratégico o reforço da produção nacional no que toca a produtos da pesca, garantindo por essa via um maior equilíbrio da balança alimentar.
O lamento maior vai para a não consideração do setor da pesca neste processo.
“Por outro lado, considera-se absolutamente inaceitável que todo este processo estivesse a ser preparado literalmente nas costas do setor, sem que o mesmo fosse ouvido e sem que os seus elementares interesses, bem como os seus legítimos direitos históricos de exploração das áreas indicadas, fossem devidamente acautelados. Desta forma, a Mútua dos Pescadores solidariza-se com o setor, com os seus profissionais, empresas e organizações representativas, colocando-se, como sempre, ao seu lado e disponibilizando-se para aquilo que entenderem necessário para dar visibilidade e robustez a esta justa luta em defesa do setor piscatório nacional”.