O PCP defende que a greve de trabalhadores da Renault anunciada para dia 1 de Abril é sinal de que a paz social foi levada ao limite e que os trabalhadores não vão continuar a suportar a falta de aumentos salariais à medida que os lucros crescem. Miguel Viegas, eurodeputado do PCP, contactou com trabalhadores e com administradores e conclui que a incerteza quanto à manutenção do volume de trabalho é o principal argumento utilizado para justificar a contenção numa ação que o eurodeputado classifica como intimidatória.
“A mensagem que vem é que para poder trazer um novo modelo para a fábrica temos que apresentar um projeto competitivo senão o projeto vai para outras empresas do grupo. Está aqui o argumento para condicionar a reivindicação justa dos trabalhadores que reclamam uma distribuição justa de lucros. A greve não surge por acaso. Há esgotamento dos trabalhadores que em nome do clima de paz social foram aguentando. O lucro triplicou e isso não tem reflexo nos salários. A Renault diz que os salários estão acima da média da região mas não estão de acordo com os resultados”.
Miguel Viegas assume que a longevidade da Renault em Portugal é um argumento de peso na imagem da empresa mas adverte para os efeitos da incerteza na vida dos profissionais. “Os trabalhadores dizem que numa multinacional nunca se sabe o dia de amanhã. É uma empresa que está cá desde os anos 80 que aparenta solidez mas que nos confronta de forma sistemática com um clima de incerteza”.
As declarações do eurodeputado do PCP surgiram no final de um dia em que foram efetuadas visitas à Renault e ao Centro de Respostas Integradas de Aveiro. O dia fechou com a apresentação do Plano de Emergência Social para o distrito de Aveiro.
O PCP quer “medidas concretas” que permitam inverter o rumo da política seguida pelo Governo de coligação PSD/PP. Diana Ferreira, deputada eleita pelo Porto mas que acompanha os dossiês de Aveiro, assume que o Plano inclui medidas de cariz local mas também mudanças na política nacional.
“É um plano que tem soluções concretas para o distrito mas há medidas que implicam alterações significativas das políticas nacionais. A implementação depende de quem estiver à frente do Governo no momento”.
O PCP defendeu a suspensão dos processos de descentralização de competências, aumento do investimento público, intervenção nos preços da energia e telecomunicações, suspensão da taxa de recursos hídricos, reversão da privatização de serviços públicos, redução do IVA, combate às deslocalizações, apoio à agricultura familiar, aumento de salários, combate à precariedade laboral, criação do observatório da pobreza e exclusão social, implementação da rede pública de combate à pobreza e centralização do processo de atribuição e gestão do subsídio de inserção na Segurança Social.
Este projeto de resolução terá de passar pelo crivo da Assembleia da República.