Guerra aberta entre a Mesa da Assembleia Municipal de Ílhavo e o grupo parlamentar independente Unir para Fazer.
O registo sonoro de “bocas” na abertura da transmissão da Assembleia Municipal desta sexta está na origem de um conflito aberto que merece comunicação dirigida a vários organismos entre os quais o Ministério Público e entidades regionais e nacionais ligadas ao Poder Local (CCDRC, CIRA, Juntas, DGAL, ANAM, ANMP e ANAFRE).
Um registo que já está a ser replicado nas redes sociais e a gerar dezenas de comentários numa guerra de palavras que alastrou à sociedade civil.
O “AMI Gate” foi desencadeado pelo microfone aberto, na mesa da vereação, onde se encontravam, entre outros, o presidente da Câmara e o Vice Presidente na sessão desta sexta.
No momento em que se vai proceder à chamada de abertura, ouvem-se vozes que Paulo Pinto Santos diz ser dos responsáveis máximos da Câmara com uso de calão.
O presidente da Mesa é, alegadamente, um dos visados no áudio, na expressão "palhaço", e emitiu um comunicado a repudiar “as declarações insultuosas”.
“Indignação, repúdio e vergonha pelas declarações injuriosas, difamatórias, ofensivas e inaceitáveis proferidas pelo Presidente da Câmara Municipal, João Campolargo, e pelo Vice-Presidente, João Semedo, na última reunião da Sessão Ordinária de Abril, realizadas no início formal dos trabalhos, com os microfones abertos e o sistema de gravação e transmissão em funcionamento”.
Ouvem-se, em fundo palavras sob a forma de “calão” e frases como “vou-me já embora, tu vais ter que aguentar esta m... que eu vou ali às Escolíadas”.
“Não se tratou de um lapso isolado, nem de um comentário infeliz, na verdade configurou um ataque consciente, injurioso, e deliberadamente ofensivo, dirigido à honra e à legitimidade de um órgão soberano do poder local”, acusa Paulo Pinto Santos que acusa, ainda, o Movimento Independente de “pressionar” os técnicos responsáveis para apagar essa parte do registo.
“Esta tentativa de apagar a verdade revela um comportamento que deve alarmar qualquer democrata — um padrão de censura, de manipulação da informação e de falta de transparência absolutamente incompatível com a vida pública num Estado de Direito”.
Paulo Pinto Santos emitiu o comunicado este sábado a meio da tarde e exigiu retratação do Presidente da Câmara Municipal e do Vice-Presidente.
Reclamou a apresentação de um “pedido de desculpas formal e público à Assembleia Municipal e aos seus membros” deixando claro que devem “assumir as devidas consequências políticas da sua atitude”.
O Movimento Independente respondeu pouco depois das 18h em nota de “repúdio" pela exposição pública do caso.
Acusa Paulo Pinto Santos de ter encontrado num “momento infeliz” pretexto para criar uma “manobra de diversão”.
“Lamentavelmente consideramos que este assunto se trata de uma manobra de diversão para tentar ocultar o essencial, que foi a sua incapacidade de gerir o funcionamento da Assembleia e de conduzir os trabalhos demonstrando impreparação, desrespeito pelo regimento e desconhecimento das suas funções”.
A maioria independente diz que está a ser construída uma “narrativa” pela Mesa da Assembleia Municipal relativamente a alegadas declarações proferidas no início da última Sessão Ordinária.
“O que foi captado em áudio, de forma parcial, descontextualizada e sem qualquer suporte visual, não permite, em momento algum, atribuir com clareza autoria, destinatário ou intenção às palavras em causa”.
Considera que grave é a iniciativa da Mesa da Assembleia de divulgar um “comunicado com linguagem excessiva, juízos de valor e acusações sérias sem qualquer tentativa de diálogo prévio”.
Conclui que a atitude de Paulo Pinto Santos “revela falta de maturidade institucional e prejudica a imagem do Município”.
Considera, ainda, que o presidente da Mesa deveria ter reunido a comissão de líderes e não agir sem “consulta prévia aos restantes membros da Assembleia”.
A nota de resposta assume o pedido de desculpas e deixa claro que não se revê na linguagem utilizada.
“A ocorrência de expressões menos felizes independentemente de quem as proferiu não é algo com que possamos concordar e que muito lamentamos, pedindo desde já desculpas àqueles que, de alguma forma, se poderão ter sentido ofendidos”.
A concluir, recusa as acusações de alegada interferência dos eleitos junto dos técnicos que asseguram a transmissão.
"Os serviços técnicos atuaram com profissionalismo e independência, e as insinuações feitas são injustas, irresponsáveis e exigem fundamentação. Não tem o direito de pôr em causa o bom nome de todos os elementos do UPF desta forma”.