“As Entidades Regionais de Turismo têm muito pouca autonomia" - Rui Ventura (Presidente da TCP).

A importância do turismo interno para o crescimento nacional foi reafirmada nos três dias do 11.º Fórum Vê Portugal, que terminou esta quarta no Velódromo Nacional, em Anadia.

Na intervenção de encerramento, Rui Ventura, Presidente da Turismo Centro de Portugal, destacou a importância de o fórum ter reunido no mesmo espaço o Turismo de Portugal e as cinco Entidades Regionais de Turismo (ERT) do continente.

“Com este Fórum, voltámos a contribuir para a afirmação da região Centro de Portugal. Mas, a partir de agora, o Vê Portugal passa também a contribuir para a afirmação do turismo no nosso país”, sublinhou.

Rui Ventura agradeceu aos participantes e oradores que enriqueceram os debates ao longo dos três dias em Anadia, e deixou o desafio para o próximo ano.

“Convido desde já os meus colegas das ERTs para que, no próximo ano, nos encontremos de novo neste fórum, para voltarmos a dar a nossa perspetiva e para que continuemos a trabalhar no sentido de um turismo melhor”, acrescentou.

O momento alto do dia foi o painel final de conclusões, que reuniu os presidentes das cinco ERTs: Luís Pedro Martins (Porto e Norte), Rui Ventura (Centro de Portugal), Carla Salsinha (Lisboa), José Santos (Alentejo e Ribatejo) e André Gomes (Algarve), num debate moderado por Carlos Abade, Presidente do Turismo de Portugal.

Nesta mesa-redonda, os líderes regionais destacaram a importância de alinhar estratégias e subscreveram a necessidade de assegurar o reforço da autonomia das entidades regionais de turismo, tanto a nível orçamental como administrativo.

“As Entidades Regionais têm muito pouca autonomia. Há tecnocratas nos gabinetes que acham que podem comandar as estratégias das ERTs”, sublinhou Rui Ventura, acrescentando que as ERTs devem ter um papel preponderante na aprovação de projetos na área turística.

“As ERTs devem ter pareceres vinculativos. Somos pouco ouvidos. Esta afinação tem de ser feita, sob pena de cada instituição remar para o seu lado”. Antes, Rui Ventura tinha agradecido o contributo das ERTs para a discussão. "Todos os painéis abordados neste fórum tocaram em temas que são transversais a todo o país. O contributo das ERTs enriqueceu este debate", enalteceu.

As dificuldades de funcionamento das ERTs foram também referidas por Luís Pedro Martins.

Lembrando que o turismo é um setor que representa mais de 20 por cento das exportações do país, salientou que a Lei 33, que estipulou as competências das ERTs, não lhes deu a autonomia financeira e administrativa necessária.

“Esperamos todos que estes problemas aqui identificados seja finalmente atacados nesta legislatura”, considerou. Ainda assim, disse, os resultados do turismo “têm sido espetaculares, fruto da paz social que existe no setor e na colaboração entre as entidades”.
Também Carla Salsinha frisou que “as pessoas não têm a noção da dificuldade que é gerir uma ERT”.

“Há muitas vozes, muitas instituições, com competências no turismo, o que gera ineficiência. O Estado tem de saber o que quer das ERTs”.

Carla Salsinha referiu ainda que a aposta deve incidir cada vez mais na qualificação do setor.

“Temos de continuar a fazer este trabalho com as empresas, que são quem traz os turistas”.
Da parte do Alentejo, José Santos subscreveu os problemas identificados pelos colegas, colocando a tónica na contratação dos recursos humanos.

“Nas ERTs, não conseguimos contratar pessoas novas. É um problema estrutural da administração pública, que é muito limitativo”.
“Os desafios estão identificados e são transversais a todas as regiões”, considerou André Gomes.

“Desde 2013 que as ERTs têm vindo a perder capacidade de execução e de ação. Há falta de reconhecimento da importância do turismo nos orçamentos de Estado”, concluiu.

O 11.º Fórum Vê Portugal reuniu centenas de participantes em Anadia, ao longo de três dias intensos de debate, networking e partilha de boas práticas, afirmando-se como um espaço de referência para o pensamento estratégico e a ação colaborativa no setor turístico nacional.

O evento foi organizado pela Turismo Centro de Portugal, em parceria com o município de Anadia e com o apoio das Entidades Regionais de Turismo de todo o país e do Turismo de Portugal.

Teresa Cardoso, Presidente da Câmara Municipal de Anadia, também usou da palavra no encerramento, expressando o orgulho do município em acolher este evento nacional e destacando a importância de valorizar os ativos locais – desde o enoturismo ao termalismo – como pilares do desenvolvimento turístico sustentável.

O último dia do Fórum foi marcado por uma sequência de debates em temas cruciais para o futuro do setor.