Poder-se-ia dizer que roubar cloroplastos compensa. Apesar de estes serem estruturas sub-celulares responsáveis pela fotossíntese típicas de algas e plantas, há espécies de lesmas-do-mar que se alimentam de algas e que conseguem reter essas estruturas e de as usar em benefício próprio. Um estudo publicado na Scientific Reports, realizado por uma equipa internacional que inclui investigadores da Universidade de Aveiro (UA), prova-o.
Um grupo restrito de lesmas marinhas é capaz de digerir as macroalgas de que se alimenta ao mesmo tempo que integra os cloroplastos nas suas próprias células. O processo é designado cleptoplastia (do grego "kleptein" - roubar) e os cloroplastos roubados designados "cleptoplastos".
Evolutivamente, esta capacidade surgiu muito provavelmente como camuflagem para reduzir a predação uma vez que confere a estas lesmas a coloração verde típica das algas que constituem o seu habitat. No entanto, em algumas espécies, o facto de os cloroplastos se manterem funcionais faz com que estes animais possam obter compostos orgânicos através da fotossíntese e sobreviver sem alimento durante várias semanas ou meses.
Um artigo publicado na revista Scientific Reports pelos investigadores Paulo Cartaxana e Sónia Cruz, do Departamento de Biologia (DBio) e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da UA, em coautoria com a Universidade de Copenhaga, vem mostrar que em períodos de escassez de alimento a fotossíntese dos cleptoplastos é importante para a sobrevivência de Elysia viridis, uma espécie de lesma marinha abundante na costa portuguesa.
O trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto "HULK-Cloroplastos Funcionais dentro de Células Animais: Resolvendo o Enigma". O projeto resulta de uma colaboração com instituições em Portugal (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e a Universidade Lusófona), Dinamarca (Universidade de Copenhaga), França (Museu de História Natural de Paris) e Suíça (Escola Politécnica Federal de Lausanne).
Fonte: UA