O 23 Milhas assegura o regresso do Palheta em 2024 e na conclusão da edição deste ano, dedicada ao lado sombrio das marionetas, fica na memória a apresentação de espetáculos que articularam tradição e inovação, tanto ao nível das técnicas de manipulação, quanto ao nível das ideias e das estéticas.
Os robertos estiveram representados de diversas formas, através das técnicas mais populares e tradicionais, como no caso de “Retablillo de don Cristóbal”, da Nao d’amores, que apresenta Don Cristóbal, o equivalente ao Roberto espanhol, num espetáculo a partir de Federico Garcia Lorca.
A companhia espanhola apresentou ainda “Misterio del Cristo de los Gascones”, em que interpreta a cerimónia de um auto religioso tradicional, com uma marioneta de Jesus Cristo à escala humana.
A Teatro de Marionetas do Porto, companhia de João Paulo Seara Cardoso, o grande recuperador da tradição dos Robertos quando estava quase perdida, nos anos oitenta, apresentou “Nunca”, inspirada no universo de Peter Pan, e de marionetas e cenários de pequena escala.
No que diz respeito aos espetáculos de rua e a marionetas de maior escala, o Palheta acolheu “Transportadores”, da companhia Radar 360, um espetáculo deambulatório de rua que projeta vídeos nos prédios urbanos e faz o público circular.
A Red Cloud Marionetas, companhia do distrito de Aveiro, apresentou a reinvenção do espetáculo “Arabesco”, numa abordagem mais experimental, a partir de textos de Edgar Alan Poe, e musicada ao vivo pelos músicos ilhavenses André Imaginário e António Justiça.
Durante todo o festival, houve Teatro Dom Roberto com a Red Cloud e a Teatro e Marionetas de Mandrágora, bem como a apresentação do livro de história, memórias e reflexões, “A arte da marioneta”, de Filipa Mesquita, diretora desta última companhia.
O núcleo expositivo do Palheta foi reativado com a introdução das marionetas construídas no contexto da oficina Azul Petróleo, orientada pelo marionetista Rui Queiroz de Matos, com a turma de artes do 10º ano, da Escola Secundária da Gafanha da Nazaré.
A exposição, que foi inaugurada em 2020, integra o espólio do bonecreiro Armando Ferraz.
“Entre a história e o património dos Robertos, a recuperação de tradições estéticas e o cruzamento da arte popular e da arte erudita, o Palheta tentou mostrar um panorama da criação contemporânea de formas animadas”, resume a organização do evento.