É inaugurada hoje, pelas 17h00, na Casa da Cultura de Ílhavo, a Exposição “Diálogos – Na beleza das obras contemplamos a beleza do Criador”, que estará patente até 04 de Fevereiro de 2022.
São apresentadas cerca de meia centena de peças, não afetas ao culto, de diversas tipologias artísticas. Pintura, escultura, azulejaria, ourivesaria e paramentaria, num arco cronológico que abrange os períodos medieval, moderno e contemporâneo, provocam o cruzamento de diferentes propostas estilísticas e iconográficas que, deste modo, dão corpo a esta primeira Exposição Interdiocesana, levada a cabo pelas dioceses de Aveiro, Viseu, Guarda e Lamego.
A exposição foi gizada numa ótica temporal, dando-lhe um caráter de peregrinação, o que possibilita que as diversas populações da vasta área geográfica das quatro dioceses, possam ter acesso a peças indubitavelmente belas, algumas há muito em reserva e outras que já foram notadas devido ao seu interesse, em exposições internacionais como Las Edades del Hombre.
Os Departamentos Diocesanos de Bens Culturais envolvidos neste projeto, imbuíram o discurso expositivo na fruição do belo e ao mesmo tempo, num alerta para a urgência em salvaguardar este património, que, afinal, é de todos, de crentes e de não crentes. Trata-se de um legado ímpar dos nossos antepassados, que nos cumpre agora preservar e transmitir às gerações vindouras. No seu âmago, é desejo o aproximar e estabelecer diálogo entre as peças e os visitantes, dadas as intertextualidades passiveis de diversos tipos de leituras, tendo implícita a consciencialização da necessidade de salvaguarda dos Bens Culturais da Igreja.
Como narradores silenciosos de existências e de ações conservativas, as peças expostas são aglutinadoras e repletas de aspetos histórico-artísticos de matriz eclesial, não se circunscrevendo apenas ao anúncio do Evangelho. Enquanto mensagem proposta pela Igreja, extrapolam a compreensão contemporânea destes bens culturais, quer no contexto da relação de proximidade dos fiéis com Deus, pois exprimem as diversas formas de vivência da fé em diversas comunidades, quer na dicotomia, tomados no seu todo, e por cada um dos fiéis, na sua individualidade. Também assim se manifesta Deus aos Homens de cada tempo, registando os cânones da beleza e da criação artística que justicam a cronologia das peças.
"Almeja-se sensibilizar os visitantes através da estratégia de salvaguarda e de valorização dos Bens Culturais da Igreja, pois ninguém sairá indiferente ao apresentado. O tesouro escondido que agora se revela é de fruição gratuita, como se materializasse parte da Encíclica Laudato Si’, o cuidar da “casa comum”. Afinal, a criação divina também faz parte a Humanidade, que quotidianamente manuseia o que foi criado por Deus. E aí, o artista reproduziu na sua sensibilidade, pensamento e experiência, a visibilidade do invisível, extraindo da natureza que conhece os materiais de que necessita, num verdadeiro ato de amor do Criador. Assim, podemos entender que o ato de criação humana colocado em cada peça é também expressivo da incorporação da humanidade em cada obra. São as mãos o elo que transfigura o mundo, que lhe dá forma, cor, brilho e assim, tantas vezes no seu anonimato, plasma o inefável, a realidade mais profunda do Homem, do transcendente, do mundo do espírito".
"Está latente a dinâmica expressa entre materiais que são, também eles, fruto da criação de Deus e que o próprio homem transforma em arte, arte essa que “fala de Deus” e Dele aproxima a fragilidade humana, revestidos de espiritualidade e que por meio dos fiéis é acedível a uma compreensão dos conteúdos intrínsecos e imagéticos".
"Diálogo em tudo o que está presente na exposição, desde as peças que dialogam e interpelam o visitante que as contempla, passando pelo diálogo silencioso entre os materiais da natureza face ao que surge depois do artista sobre eles ter colocado as mãos e as ferramentas auxiliares que levam a que surgissem registos tão expressivos da cultura católica, quanto facilitadores de diversas leituras".