Jeremias Bandarra faleceu aos 86 anos e Aveiro perde um dos seus grandes artistas.
Ligado à criação do Aveiro Arte, Círculo Experimental de Artistas Plásticos, Jeremias Bandarra foi um artista premiado e reconhecido a uma escala alargada.
Irmão do também artista Hélder Bandarra, tinha as áreas de eleição na pintura, ilustração e desenho cerâmico.
Sobre o seu traço dizia ter evoluído com o tempo.
“Alguns amigos têm-se debruçado sobre a minha obra plástica, caracterizando-a como sendo uma pintura marcadamente simbolista. Não desdenho esta visão, embora ela tenha sido mais reveladora nos últimos dez anos. No início da minha carreira, confesso que fui fortemente influenciado pelos construtivistas da Escola de Paris, como Bissière, Manassier e Vieira da Silva. Mais tarde, descobri Paul Klee, que me abriu as portas para uma realidade pictórica mais condizente com a minha maneira de ver a arte e o mundo. Nos seus quadros estão imanentes a poesia e o sonho de que é construída toda a existência, duma forma muito subtil”.
Um percurso que constrói a partir das influências uma identidade própria.
“Depois como sempre acontece, vamos deixando todo o tipo de influências, deixadas pelos mestres e a caminhar pelos nossos próprios meios, descobrindo, naturalmente, a nossa identidade pictórica e a expressão que nos é mais peculiar. A minha passagem quase exaustiva pela pintura sobre papel, principalmente a segunda, deu-me um potencial técnico que me ajudou fortemente na execução do design de cartões para variadíssimos vitrais e painéis cerâmicos”.
Numa fase mais avançada da vida, assumiu o gosto por uma mensagem mais simples e direta.
“Procurei sempre retirar do mundo quotidiano os motivos e as formas poéticas que lhe são inerentes e tratá-las com o gosto estético que me caracteriza. Presentemente tento minimalizar o conteúdo dos meus trabalhos pois acredito que a mensagem que tento passar tem de ser a mais simples e directa possível”.
Participou nas primeiras comissões organizadoras das Bienais Internacionais de Cerâmica Artística organizadas pela Câmara de Aveiro, tendo assinado mais de 20 exposições individuais e mais de uma centena de coletivas.
Da autarquia recebeu a Medalha de Mérito Cultural.
Da sua cidade fazia questão de destacar a ligação intensa.
“Tenho uma ligação muito forte a Aveiro. Aqui nasci, cresci, estudei, trabalhei e aqui tenho o meu atelier. Foi também em Aveiro que, com 25 anos, inaugurei a minha primeira exposição individual”.
Nasceu em Aveiro a 30 de Janeiro de 1936 e foi discípulo dos pintores Júlio Sobreiro e Porfírio de Abreu.As cerimónias fúnebres decorrem, esta quarta-feira, dia 9 de Março, às 11h, na Capela de Santo António, em Aveiro.
Dos amigos mereceu referências pela sua entrega ao mundo das artes, em particular no Aveiro Arte.
Ze Lu afirma que Aveiro perdeu um dos seus melhores.
“Adeus Amigo e dá um Abraço aí em cima ao S. Gonçalinho”.
Foto: Litoral Magazine