Aveiro: Estudo confirma mundo rural como porta de saída para a crise.

Elizabete Figueiredo, docente da UA,é uma das autoras de uma publicação sobre os efeitos da crise em territórios rurais e que vem confirmar o papel do mundo rural como escapatória à crise.

“A crise económica recente teve efeitos devastadores, especialmente, nos países do sul da Europa e nos seus territórios rurais, já muito marcados por dinâmicas de abandono e de negligência política”, afirma Elisabete Figueiredo, professora da Universidade de Aveiro e uma das três coordenadoras de uma nova edição da Springer.

Esta divulga investigação recente sobre as transformações, os desafios e oportunidades para os territórios rurais, na crise e no período pós-crise.

Trata-se de uma “uma coleção de ‘retratos’ que permitem compreender algumas dimensões dos efeitos da crise financeira e económica nos territórios rurais da Europa do Sul e Mediterrânica”, carateriza a professora do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território UA.

O livro Crisis and Post-Crisis in Rural Territories - Social Change, Challenges and Opportunities in Southern and Mediterranean Europe, acaba de ser publicado pela Springer International Publishing e é coeditado ainda por Fatma Nil Döner do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Medeniyet Istambul, Turquia, e por Maria Jesus Rivera do Departamento de Sociologia e Serviço Social da Universidade do País Basco, Espanha.

Foi no seio dos debates e investigações do Research and Study Group ‘Southern and Mediterranean Europe: Social Change, Challenges and Opportunities’, criado em 2014 na European Society for Rural Sociology, que nasceu este livro.

O livro é composto por 11 capítulos reunindo um conjunto de casos de estudo e contributos de cientistas sociais de Espanha, Grécia, Itália, Portugal e Turquia.

Através dos estudos apresentados – na sua maioria de natureza qualitativa – a obra visa contribuir para o até agora limitado debate sobre os processos e dinâmicas de transformação dos territórios rurais motivados ou agudizados pela crise financeira e económica recente

Os contributos presentes neste livro debruçam-se em profundidade sobre as micro-histórias dos protagonistas das transformações, sejam os residentes rurais de longo termo, os migrantes, os regressados ou os que procuram no campo, pela primeira vez, refúgio face a uma crise centrada nos grandes centros urbanos.

Assim, o livro desvenda algumas dimensões dos efeitos da crise em comunidades e atores específicos em diferentes regiões da Europa do Sul e Mediterrânea, essencialmente através das narrativas da sua história e dos seus projetos de vida.

A maior parte dos capítulos analisa o influxo de imigrantes e relocalizados nos territórios rurais, discutindo as suas motivações e estratégias de adaptação, assim como a recomposição social naqueles territórios.

Outros analisam as mobilidades para dentro e para fora das áreas rurais como estratégias de sustentabilidade dos territórios e de modos de vida.

Outros ainda focam-se nas políticas neoliberais reforçadas com a crise na reconfiguração administrativa, económica e social do rural e, finalmente, outros analisam a emergência de redes alternativas de produção e consumo agroalimentar motivadas pela crise económica.

Territórios diversificaram-se e complexificaram-se

Os resultados de toda esta diversidade de atores, projetos, estratégias e narrativas são, também eles, plurais, afirma Elisabete Figueiredo.

Apesar dessa pluralidade, acrescenta, é possível sistematizar os efeitos da crise nos territórios rurais da Europa do Sul e Mediterrânica em três grandes dimensões.

A primeira relaciona-se com a heterogeneidade desses efeitos que, apesar disso, redundou – pela severidade das medidas de austeridade impostas durante os tempos de crise – na intensificação da vulnerabilidade e das desigualdades sociais nos territórios rurais.

A segunda dimensão está relacionada com o papel dos territórios rurais como lugares de resiliência e de refúgio para as populações não rurais, muito especialmente para aquelas que ainda possuem laços familiares com aqueles territórios. Finalmente, a crise intensificou as relações rural-urbano, através das mobilidades, do emprego, dos serviços e das redes de produção e consumo agroalimentar e, ao mesmo tempo, precarizou os modos de vida e de trabalho no interior dos territórios rurais.

Os territórios rurais do sul da Europa durante e depois da crise financeira e económica diversificaram-se e complexificaram-se, resume a investigadora da UA, representando estes aspetos, em muitos casos, oportunidades de desenvolvimento, mas também trazendo desafios, especialmente económicos e culturais que não podem ser negligenciados.

O livro inclui um capítulo sobre Portugal, numa perspetiva comparada com a Grécia - ‘No Choice’ or ‘A Choice’? – An Exploratory Analysis of ‘Back to the Countryside’ Motivations and Adaptation Strategies in Times of Crisis in Greece and Portugal de Elisabete Figueiredo, Maria Partalidou e Stavriani Koutsou, em que se procura compreender em profundidade as motivações e as estratégias de adaptação de pessoas que, em ambos países, se relocalizaram no campo na sequência direta da crise económica.

Face à afirmação tantas vezes repetida durante a crise financeira e económica, pelos meios de comunicação social e pelos decisores políticos, da inexistência de alternativas às medidas de austeridade então impostas, conclui a coeditora da obra, o rural foi (e continua a ser em grande medida) simultaneamente um lugar de refúgio e, para muitas pessoas e famílias, a única saída para a crise que devastou as suas vidas.

 

Texto e foto: UA