- Educação à Escuta
Na creche e jardim de infância, é importante que as crianças explorem livremente e brinquem muito. Então, e o educador não faz nada?
 
Gabriela Portugal, Investigadora do CIDTFF, assinala a comemoração do Dia Mundial da Criança, dia 1 de junho, com a rubrica Educação à Escuta sobre a importância do brincar.
Quando o bebé explora um objeto, confronta-se com as suas características, descobre-o e vai construindo esquemas mentais sobre a realidade que vai percebendo. Descobre objetos, descobre o que pode fazer com os objetos, descobre o que acontece quando junta objetos diferentes, e brinca com os objetos retirando prazer da ação de repetir e reinventar ações, movimentos, comportamentos, etc., abordando e lidando com a realidade de formas cada vez mais criativas e complexas. Neste processo, as crianças não fazem apenas descobertas, também se expressam, mobilizam conhecimentos, pensam e resolvem problemas, dão asas à sua imaginação, e aprendem por ensaio e erro, sem medo de falhar.
A tendência natural da criança é para o desenvolvimento e aprendizagem. Não é para a estagnação. Existe nela uma curiosidade e ímpeto exploratório que se manifestam naturalmente na exploração livre e no brincar, e que requerem um contexto estimulante, bem como relações prazerosas e securizantes com adultos de referência e outras crianças.
Sendo algo profundamente significativo para as crianças, o brincar é um direito das crianças (direito ao desenvolvimento), devendo ser encorajado e acarinhado. Quando a iniciativa da criança é estimulada, quando a sua ação não é interrompida e a concentração é alimentada, quando a exploração acontece até se esgotar naturalmente, a criança percebe que o seu brincar é valorizado e respeitado, e o seu sentido de confiança é robustecido. Daí ser importante que qualquer contexto de educação de infância se organize no sentido de providenciar espaços e tempos, adequados e ricos, para o brincar e para a atividade livre. Quando isto é feito, está-se a atender, ainda, a outro direito da criança: o de participação. Quando se confere liberdade à criança para escolher e tomar decisões, para se envolver nos seus próprios projetos, o respeito, a confiança e a atenção ao cidadão criança ressaltam.
Num tempo em se verifica uma focalização em resultados, produtos, notas, rankings, seleção e competição, mesmo em contextos de educação de infância, que acolhem crianças entre os 0 e 6 anos, assiste-se a uma desvalorização do brincar. Apesar de uma retórica valorizadora do brincar (não há nenhum educador de infância que diga que o brincar não é importante), na prática, em demasiados contextos de infância, o tempo e lugar do brincar são desvalorizados. Frequentemente, o brincar é visto como uma atividade de recreio, que antecede ou se segue às “atividades de aprendizagem” que são programadas pelo adulto. Facilmente se interrompe o brincar da criança porque “agora vamos trabalhar, depois podes ir brincar”. No fundo, estamos perante a ideia de que as atividades propostas pelo adulto são as que, realmente, envolvem aprendizagens pertinentes e úteis. E, frequentemente, pensa-se: se as crianças têm de brincar, então, que que seja um brincar didático, com objetivos de aprendizagem definidos!
Sem desprimor de muitos jogos didáticos, o brincar “livre” é uma via privilegiada para promoção do desenvolvimento e aprendizagens, sendo a ação do educador determinante.
Cabe ao educador pensar e preparar um ambiente responsivo à vitalidade e à atitude de descoberta das crianças, assegurando diversas possibilidades de brincar e potenciando a complexificação crescente da sua atividade. Cabe ao educador sintonizar-se com as crianças, pegando nas suas manifestações de interesse e atuando no seu prolongamento, sem intrusão. Criar oportunidades de exploração e de brincar interessantes, dar espaço e tempo à criança, estar disponível e ser responsivo não é algo que surja naturalmente. Observar e controlar o ímpeto para dirigir e “ensinar” não é fácil. Trabalhar a iniciativa e a autonomia da criança envolve a capacidade do adulto reequacionar o seu papel e suspender os seus próprios planos e objetivos, para confiar e se centrar na ação da criança.
Se o cidadão criança que se deseja é alguém seguro e com uma boa autoestima, que está bem consigo próprio e com os outros; curioso e disponível para aprender e desenvolver projetos, com atenção às perspetivas e ideias dos outros, ensinar através do brincar revela-se como uma forma poderosa de se atender a essas finalidades.
Sugestão de leitura:
Bento, G., Portugal, G., Dias, G. & Oliveira, P. (2019). Serei(a) no jardim. Aveiro: UA Editora. ISBN:978-972-789-569-4. http://hdl.handle.net/10773/26228
Este podcast tem áudios Registe-se para ouvir.
 
Episódios
- 
Imagem HiLives: Including and Connecting in Higher Education: Networking opportunities for independent lives14.12.2020Ouvir HiLives: Including and Connecting in Higher Education: Networking opportunities for independent lives14.12.2020OuvirOlá, sou a Paula Coelho Santos, investigadora do CIDTFF e docente do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro; venho falar-vos da transformação em curso na Universidade de Aveiro (UA) (e não só), para um mais elevado nível de inclusão, capaz de se constituir como contexto de pertença de um grupo que tem estado impedido de a ela aceder: os estudantes que, tendo completado 18 anos de idade, ou terminado a escolaridade obrigatória, são detentores (apenas) de um certificado de frequência ou equivalente, que não lhes permite pleno acesso ao Ensino Superior 
- 
Imagem Plano C para a Felicidade07.12.2020Ouvir Plano C para a Felicidade07.12.2020OuvirCristina Maria Felizardo Rodrigues (www.cfeliz.pt) Quando o plano A falha e o plano B desmorona-se, eis que surge o plano de contingência para uma vida feliz Do que se trata? 
- 
Imagem inclusão de estudantes com NEE no Ensino Superior30.11.2020Ouvir inclusão de estudantes com NEE no Ensino Superior30.11.2020OuvirEvelyn Santos-https://www.ua.pt/pt/p/80324215 
- 
Imagem  
- 
Imagem Form@tive - Formar futuros professores para ensinar crianças através de CBL16.11.2020Ouvir Form@tive - Formar futuros professores para ensinar crianças através de CBL16.11.2020OuvirAna Valente Rodrigues e Vânia Carlos O Projeto “Form@tive - Formar futuros professores para ensinar crianças através de CBL”, coordenado pelas Investigadoras Ana V. Rodrigues e Vânia Carlos, enquadra-se no âmbito de cursos relacionados com a formação inicial de educadores de infância e professores do 1º e 2º Ciclo do Ensino Básico. Foi premiado com o 2º lugar no concurso de Incentivo a Projetos de Inovação Pedagógica da Universidade de Aveiro - Edição 2020.