Educação à Escuta - Ep. 26 Anabela Pereira
Um programa da responsabilidade do CIDTFF da Universidade de Aveiro. Porque a diferença está na Educação e a Educação faz toda a diferença.
Esta manhã a nossa convidada é a Investigadora Anabela Pereira que nos vem falar sobre a ansiedade e medos do COVID19.
Anabela Pereira
Professor Associado com Agregação no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro e
Investigadora do CIDTFF
Ansiedade e medos do COVID19. Há vírus na Educação
Há semelhança do vírus SARS-CoV-2 que provoca a doença COVID -19, poderemos simbolicamente dizer que há outros “vírus” como os da ansiedade, medos e das fake news que se instalaram concretamente na Educação Universitária em todos os seus atores: estudantes, professores e técnicos.
Em todos estes intervenientes poderemos salientar alguns “vírus” em comum, com efeitos psicológicos e potenciais consequências devastadoras negativas para a vida do indivíduo. Salientamos, entre eles a ansiedade nas suas três dimensões (fisiológica, cognitiva e comportamental), os medos exacerbados e catastróficos relacionados com a incerteza, a falta do controlo o desconhecimento, a solidão, dificuldades nas interações sociais e familiares e a “pandemia” das fakenews e da desinformação.
Focalizados nos estudantes, a ansiedade aos exames neste último período aumentou, por exemplo os finalistas da área da saúde, psicologia e educação entre outros que realizaram o ano estágio durante o confinamento, não tiveram oportunidade de desenvolver competências relacionais de interação social tão importantes para o desempenho da profissão no futuro. Os professores, técnicos administrativos e outros, muitos deles em situação de teletrabalho e confinamento, para além da perceção de que estão ultrapassados no uso das tecnologias (quando comparados por exemplo com os seus estudantes), e sem formação adequada que lhes permitissem responder às suas necessidades profissionais entraram em esgotamento emocional, qual burnout resultante da sobrecarga de trabalho.
Sensíveis a estas e outras problemáticas que interferem no bem-estar psicológico do indivíduo, logo após ser decretado o período de confinamento em Portugal, iniciámos uma investigação conjunta desenvolvida pelo Stresslab do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro com a Universidade de Coimbra (Faculdade de Medicina e Serviço Doenças Infeciosas), no sentido de identificar o impacto da pandemia nos estudantes, no sentido de podermos depois fornecer orientações para que as instituições possam melhor prevenir e lidar com este problema. A elevada adesão de respostas que tivemos no questionário online e por nós lançado identificou que num grupo etário de estudantes do ensino superior dos três ciclos de ensino, com idades compreendidas entre 21 aos 40 anos revelaram um aumento de 27% da ansiedade generalizada e dos medos (referentes as causas individuais ou coletivas) em relação ao período do pré-Covid (Pereira & Duque, 2020). Além disso a investigação revelou que as mulheres quando comparadas com os homens, apresentam maiores níveis de ansiedade, ainda que estes apresentem um maior risco associados ao álcool e tabaco. O aumento da perceção do excesso da desinformação e fakenews foi também realçado neste estudo.
Tais resultados, alertam para a necessidade das instituições do ensino superior poderem desenvolver estratégias de prevenção e educação para a saúde, nomeadamente para a saúde mental.
Todos nós poderemos usar as armas pessoais para combater estes “vírus“, os da ansiedade e outros medos específicos quer os emergentes resultantes da desinformação, como sejam os boatos ou notícias falsas. As incertezas provocam desconfortos apelando à “miopia metacognitiva”, que acede ao processo da informação mas depois não está apto para a validar (Forgas & Baumeister, 2019). No comportamento humano, o enviesamento cognitivo, qual predisposição para se aceitar a informação que se recebe associada ao enviesamento na atribuição do significado, poderá indicar inferências erróneas aumentando assim as fakenews. Recentemente têm emergido na área da Psicologia Cognitiva, estudos que acentuam as consequências negativas das fakenews na memória (Basol et al., 2020; Van Bavel et al., 2020), tanto mais que todos nós facilmente poderemos ser potenciais alvos e disseminadores. Tal analogia permite comparar a forma como o coronavírus se propaga com a disseminação das fakenews. No comportamento social uma partilha entre amigos facilmente poderá alastrar por outras pessoas.
À laia de síntese, importa referir a necessidade da promoção da saúde e bem-estar dos indivíduos, da literacia digital, sensibilizando as redes sociais individuais e organizacionais pela criação e partilha responsável da informação.
Não menos importante a sensibilização para o autocuidado de todos os intervenientes do contexto educacional, bem como a necessidade de desenvolver estratégias de inoculação ao stress e às faknews para que os indivíduos possam construir e processar a sua realidade sem perturbar o seu bem-estar psicológico.
Basol, M., Roozenbeek, J., & Van der Linden, S. (2020). Good News about Bad News: Gamified Inoculation Boosts Confidence and Cognitive Immunity Against Fake News. Journal of Cognition, 3(1), 9. https://doi. org/10.5334/joc.91
Forgas, J. & Baumeister, R. F. (2019). Homo credulus: On the Social Psychology of Gullibility. In J. P. Forgas & R. F. Baumeister (2019) (Eds.) The Social Psychology of Gullibility: Fake News, Conspiracy Theories, and Irrational Beliefs (p. 1-18). London: Routledge Taylor & Francis Group.
Pereira, A. & Duque, V. (2020) Anxiety and fears at universities during pandemic crisis (in press).
Van Bavel, J., Baicker, K., Boggio, P., … & Willer, R. (2020). Using social and behavioural science to support COVID-19 pandemic response. Nature Human Behaviour, 4, 460-471.
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