LUÍSA PINTO - CÂNTICOS DE BARBEARIA DE CARLOS TÊ
LUÍSA PINTO é Mestre em Teatro / Encenação pela Escola Superior Artística do Porto. Docente na Escola Superior Artística do Porto e faz parte da Direção da Cesap, coperativa de ensino superior artístico do Porto. Doutoranda em estudos teatrais e performativos na Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra. Encenou mais de 20 peças, entre elas , “Mil olhos de vidro”,” Dali”, ” Missa do Galo” de Carlos Tê e Manuel Paulo, “ Sicrano “de Jorge Louraço Figueira, “A Casa Encantada” de Roberto Merino, “ elegante melancolia do crepúsculo,”“Chavela” de Pedro Pinto e Filipe Pinto “Amor solúvel” de Carlos Tê,” “Um fio de Jogo”, Trago-te na pele” de Marta Freitas, “Breviário Gota D Água” de Heron Coelho a partir de Chico Buarque, “caminham nus empoeirados “ de Gero Camilo, entre muitos outros privilegiando autores e dramaturgos da língua portuguesa. A par da encenação, cria cenografia e figurinos para os seus espetáculos tendo nos últimos cinco anos a sua assinatura em todas as criações.
Carlos Tê texto e direção musical, Luísa Pinto encenação, cenografia e figurinos, Pedro Almendra (nomeado para melhor ator – Prémios SPA), Allex Miranda, Filipa Guedes interpretação, Eduardo Silva (baixista dos Pluto) interpretação musical, Bruno Santos desenho de luz, Ricardo Regalado assistente encenação, José Lopes execução adereços, Narrativensaio-AC produção, Cláudia Pinto assistente produção
CÂNTICOS DE BARBEARIA DE CARLOS TÊ
Ou o dia em que Tony de Matos e Lupicínio Rodrigues se encontraram.
Tony de Matos podia ser uma pequena estrela vagueando pela constelação da posteridade, mas preferiu abrir uma barbearia para receber as grandes estrelas. Um dia, Lupicínio Rodrigues entra pela loja. Tony de Matos reconhece-o e confessa-se seu fã. É o ensejo que não foi possível em vida, apesar de terem frequentado as mesmas salas de espectáculo do Brasil entre 1954 e 1965. Durante um singelo corte de cabelo e um escanhoamento, Tony e Lupicinio poem as afinidades em dia e discutem o mecanismo e a função das dolorosas canções de amor, tema em que se especializaram, principalmente Lupi, a quem se atribui a expressão “dor de cotovelo” e uma breve teorização sobre a sua natureza, ao dividi-la em dor municipal (que se esquece facilmente), dor estadual (que demora meio ano a passar) e dor federal (que fica para sempre e é incurável).
O que é a canção senão um unguento nessa dor eterna? Talvez um efémero tijolo civilizacional que constrói o fair-play moderno e que ensina a arte de sublimar a rejeição.
O leque de artistas que cantou Lupicinio vai de João Gilberto a Elis Regina, de Gal Costa a Adriana Calcanhoto. Tony de Matos foi o ultimo cantor romântico português. Este encontro na posteridade (a verdadeira sociedade sem classes) serve também como improvável reflexão destas figuras sobre alta e baixa cultura, coadjuvadas por uma personagem mítica, Medusa, e por um ajudante de barbeiro especial: Bill Evans.
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