A Universidade de Aveiro desenvolve acompanhamento psicológico para mulheres com cancro da mama. O acompanhamento psicológico em Portugal para mulheres que têm ou já tiveram cancro da mama é praticamente nulo. Com um escasso número de psicólogos e psiquiatras a trabalhar com doentes oncológicos, a grande maioria das cerca de 6100 mulheres anualmente diagnosticadas está à mercê de depressões, ansiedades, dificuldades sexuais e de um permanente medo que a doença vença.
O alerta é de um grupo de investigadoras de Psicologia da Universidade de Aveiro (UA) que desenvolveu o InMama Group, um programa inédito de intervenção em grupo que otimiza o trabalho dos técnicos de saúde mental sem descurar a eficácia dos resultados. O livro com o programa é lançado hoje, Dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama, pelas 17h00, na editora Cegoc, em Lisboa.
“Existe um número reduzido de psiquiatras e psicólogos nos institutos de oncologia nacional, que só conseguem alcançar uma parte reduzida da população que passa pela doença. No Instituto Português de Oncologia de Coimbra existe uma equipa constituída por uma Psiquiatra e uma Psicóloga para todos os doentes de todos os tipos de cancro”, exemplifica Ana Torres, psicóloga, autora do InMama Group juntamente com Anabela Pereira, Sara Monteiro e Filipa Araújo. Por isso, aponta, “o acompanhamento [psicológico e emocional] é escasso e a maioria das mulheres não o recebe”.
Por isso, “o facto do InMama Group apontar para uma intervenção de grupo tem também como objetivo que os poucos profissionais que trabalham nesta área consigam intervir em simultâneo num grupo de doentes e não somente num doente”. Ou seja, explica Ana Torres, “com este tipo de intervenção consegue-se chegar a um maior número de pessoas”.
Para além desta otimização de recursos, esclarece a investigadora, “a intervenção de grupo neste tipo de problema tem sido indicado também por proporcionar a oportunidade de partilha de experiências comuns relacionadas com o cancro e de estratégias para lidar com as dificuldades, para além de se acreditar que as pessoas se sentem úteis ao fornecer ajuda aos outros membros do grupo”.
“Existem efeitos físicos e psicológicos em todas as fases da doença, nomeadamente efeitos tardios e de longa duração, que persistem para além da remissão da fase ativa da doença, por exemplo, alterações da auto-imagem, alterações do auto-conceito e da auto-estima, sintomatologia depressiva e ansiosa, medo de recorrência ou dificuldades sexuais”, descreve Ana Torres.
Uma sintomatologia de sofrimento emocional “que pode comprometer a qualidade de vida, ou pelo menos alguns domínios da qualidade de vida destas doentes, o domínio físico, sexual, psicológico, social, de papel e espiritual”.
Escrito a pensar nos psicólogos e psiquiatras que trabalham com doentes oncológicos, em especial com mulheres que sobreviveram ao cancro da mama, o livro descreve, passo a passo, oito sessões psico-educativas contendo a descrição e informação para liderar este tipo de intervenção, potenciando a replicação dos benefícios alcançados.
O InMamaGroup é um programa de natureza essencialmente psicoeducativa e tem como objetivo familiarizar as doentes com estratégias que promovam o ajustamento psicológico, emocional, social e espiritual às dificuldades resultantes da doença, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida.
Constituído por oito sessões, de frequência semanal e com a duração de aproximadamente 90 minutos, o programa tem como objetivos permitir uma adaptação saudável da mulher aos efeitos do cancro da mama e dos tratamentos, diminuir a sintomatologia psicopatológica e o sofrimento psicológico, melhorar as estratégias de coping, os estados de humor e o autoconceito contribuindo para o ajustamento emocional e o crescimento pessoal e, por consequência, promover a qualidade de vida da mulher.
Testado ao longo dos últimos anos, as melhorias encontradas nas mulheres que já passaram pelo cancro da mama e, posteriormente, pelo programa InMama Group são notórias. “Encontramos um efeito significativo especialmente a nível da perceção que as mulheres têm de si [ao nível do auto-conceito], para além da diminuição da predisposição à ansiedade”, congratula-se Ana Torres. Portanto, desejam as autoras, “esperamos que muitas outras mulheres consigam beneficiar destes e de outros efeitos”.