Dois grupos de investigação dos Departamentos de Química e Biologia da Universidade de Aveiro (UA) que trabalham há 10 anos no desenvolvimento de estratégias alternativas aos antibióticos existentes no mercado, publicaram um artigo na Future Medicinal Chemistry.
Como tem sido amplamente divulgado nos media, é cada vez maior o número de bactérias multiresistentes aos atuais antibióticos que ameaça a saúde pública mundial. De facto, estas bactérias são atualmente responsáveis por mais de 700 000 mortes anuais, número que, se nada for feito, poderá aumentar para os 10 milhões de mortes em 2050.
Reconhecendo-se que as transfusões sanguíneas são um dos veículos responsáveis pela disseminação de resistências, estes dois grupos de investigação sediados na unidade de investigação Química Orgânica, Produtos Naturais e Agroalimentares (QOPNA) e no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) publicaram recentemente um estudo sobre a aplicação da terapia fotodinâmica na desinfeção do sangue.
O artigo intitula-se “An effective and potentially safe blood disinfection protocol using tetrapyrrolic photosensitizers” e foi publicado na Future Medicinal Chemistry. Os dois grupos são constituídos por Amparo Faustino, Maria Graça Neves, Leandro Lourenço, do QOPNA, e por Adelaide Almeida, Lúcia Marciel, Mário Pacheco, do CESAM.
A terapia fotodinâmica consiste na utilização de substâncias capazes de, na presença de luz, transformar o oxigénio numa espécie altamente tóxica para os microrganismos (bactérias, vírus, fungos e parasitas) levando à sua destruição por um processo bem diferente do utilizado pelos antibióticos convencionais. Esta técnica tem sido utilizada em tratamentos oncológicos, no tratamento de verrugas víricas, leishmaniose cutânea e acne, entre outros.
No entanto, na área da desinfeção do sangue existe um longo percurso a fazer uma vez que, atualmente, a terapia fotodinâmica só pode ser utilizada para a desinfeção de plasma devido aos efeitos colaterais que as substâncias usadas podem causar nas células do sangue.
Os investigadores da UA estão a desenvolver um protocolo para a desinfeção de sangue de forma segura e eficiente com novas substâncias fotossensibilizadoras que permitam inativar microrganismos presentes no sangue e que poderiam ser transmitidos durante a realização de transfusões.
Este artigo relata os resultados obtidos com uma porfirina desenvolvida pelos investigadores do Departamento de Química da UA na fotoinativação da Escherichia coli e da Stapylococcus aureus.
Recorde-se que S. aureus é uma das bactérias presentes, com uma prioridade elevada, na lista da OMS (Organização Mundial de Saúde) dos patogénicos para os quais é mais importante criar antibióticos.
Os resultados agora publicados são bastante promissores, pois a substância agora testada não só inativa bactérias presentes no plasma, como os resultados obtidos nesta fase apontam para a possibilidade de aplicação no sangue total, uma vez que, a concentrações baixas, parece não afetar os eritrócitos.
Este trabalho constitui assim um avanço nesta área abrindo portas para a sua possível utilização na desinfeção do sangue total. Este estudo contou ainda com a colaboração do investigador João Tomé, e dos estudantes Beatriz Moreira e Luis Teles.
Texto e foto: UA