Depois do encontro sobre alterações climáticas e os impacos na orla costeira e na laguna, a SEDES – Aveiro prepara novas abordagens com interesse para a região em iniciativas ao longo do ano.
Mobilidade, competitividade, respostas sociais e saúde são os quatro eixos para as conferências de 2023.
No 1ºtrimestre destaca-se uma jornada de reflexão, a 25 de Março, sobre “A ferrovia, a rodovia, e a mobilidade suave na Região de Aveiro”.
Em análise o Plano Ferroviário Nacional, a Alta Velocidade e o futuro da linha do Vouga, a futura via Aveiro/Águeda e a mobilidade suave.
Em Junho chega o debate sobre “A competitividade da Indústria da Região de Aveiro” que analisa a descarbonização, a transformação digital e o papel do Porto de Aveiro.
No terceiro trimestre, em setembro (30) chega o encontro sobre “As vulnerabilidades sociais na Região e as respostas institucionais e privadas”.
A fechar, no 4ºtrimestre, em Dezmebro (16) análise sobre “o sistema de Saúde na Região de Aveiro” para abordar a ampliação do Hospital de Aveiro, a Escola Superior de Saúde, os Centros de Saúde, os médicos de família, a oferta de cuidados continuados e o novo regime de gestão da rede hospitalar nacional e a sua incidência na Região de Aveiro.
A Sedes, com representação em Aveiro e liderada por Alberto Souto Miranda, quer fomentar o debate sobre os grandes temas de interesse regional e nacional.
O primeiro encontro, em Dezembro de 2022, foi dedicado ao “O impacto das alterações climáticas na orla costeira Ovar/Mira e na Ria de Aveiro”.
Num evento de participação alargada, o orador convidado foi João Miguel Dias (Professor Catedrático da Universidade de Aveiro, doutorado em Física, com especialização em Oceanografia e Diretor do Departamento de Física da Universidade de Aveiro, onde fundou e dirige o Núcleo de Modelação Estuarina e Costeira e investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar).
Mais do que a subida do nível do mar ficaram registadas preocupações com as alterações climáticas e fenómenos extremos.
O investigador diz que não são expetáveis recuos violentos.
No futuro é prevista uma diminuição da deriva litoral relacionada com mudanças no rumo de proveniência da agitação e menor capacidade de transporte de sedimentos sendo que os problemas de erosão costeira “resultam fundamentalmente do défice sedimentar existente no litoral, essencialmente relacionado com a redução do fornecimento de sedimentos com origem no rio Douro”.
Com base nas projeções de agitação existentes, não é seguro que as características do clima de agitação futuro venham agravar o problema de erosão.
Quanto aos efeitos da subida do nível médio do mar e correspondente aumento da intrusão salina a partir da embocadura da laguna nota-se a subida da salinidade na cabeceira dos canais.
Actualmente, durante a maré viva a área inundada da laguna é aproximadamente 23% superior do que em maré média, sendo as zonas mais afetadas situadas na cabeceira do canal de S. Jacinto e na zona central da laguna.
O Baixo Vouga representa uma das áreas a merecer atenção e previsivelmente será uma das áreas de inundação mais extensas.
Ainda assim, o investigador considera que há muito alarmismo a partir dos modelos e dos mapas utilizados uma vez que não são baseados em simulações físicas de tempestades e inundações e não consideram fatores como erosão, mudanças futuras na frequência ou intensidade das tempestades, atrito, entre outros elementos.
“Desta forma, os resultados destes modelos que têm vinco a ser divulgados pela imprensa generalista são exagerados e alarmistas, pois a não consideração de factores como o atrito na propagação da onda de inundação ou as barreiras e diques de proteção já existentes conduz à obtenção de áreas inundadas muito superiores às previstas por modelos hidrodinâmicos dedicados, que contabilizam todos os processos físicos e as medidas de proteção existentes”.
A existência de barreiras físicas, a reposição de sedimentos e a qualificação do território para esses desafios são hoje a grande arma para mitigar os efeitos das alterações climáticas.
Foi sublinhado que, provavelmente, a descarga de 10M de m3 de areia a sul da Costa Nova está a ter efeitos benéficos na estabilização da costa na Vagueira, mas que podem ser necessárias outras intervenções de engenharia pesada, como quebra-mares destacados da costa.
Ficou registado que o Plano de Ordenamento da Orla Costeira OVAR/Marinha -Grande, aprovado em 2017, está com “taxa de execução muito baixa”.
E foi aconselhada a necessidade de reforçar a monitorização da Ria de Aveiro com “marégrafo permanente” localizado na embocadura.
O apelo foi deixado também à instalação de sensores por canal e nos caudais fluviais, para controlar, entre outros dados, o nível de água, a salinidade, e a descarga fluvial, o que permitiria construir um modelo em tempo real para fazer previsões a 3 dias das inundações das áreas marginais da Ria de Aveiro.
Uma sessão marcada ainda por apelos às dragagens de manutenção para manter a ria navegável garantindo ligação entre as marinas de recreio, portos de pesca e canais de navegação.
O futuro das marinhas foi outro dos temas encarado com algum pessimismo uma vez que dificilmente será assegurada a retoma da produção do sal e pouca margem existe para projetos de turismo devido às limitações legais.
E nem a aquacultura é vista como “salvação” das antigas marinhas.
Na presença do presidente da administração do porto de Aveiro, Eduardo Feio, falou-se da competitividade com o eventual alargamento da boca da barra.
João Miguel Dias assegura que um alargamento de 50 metros poderá implicar uma variação de cerca de 1% nas principais variáveis hidrodinâmicas (nível de água, correntes de maré, prisma de maré e salinidade), efeito consderado “negligenciável”.
No rescaldo do encontro a SEDES entende que o tema está na agenda e as alterações climáticas devem ser levadas a sério mas “não se justificam dramatizações”.
E não podem ser “culpadas” de todos os efeitos na laguna uma vez que o aumento das correntes decorrentes de operações de dragagens “modificam a geometria e a zona erodida, independentemente das alterações climáticas”.
A terminar a sessão que contou com a participação de figuras como Pimenta Machado (vice presidente da APA Ambiente), Eduardo Feio (Presidente do Porto de Aveiro) e vários autarcas da região (Aveiro, Ílhavo, Vagos e Albergaria), a SEDES exorta os poderes públicos, em especial o Governo, as autarquias locais ribeirinhas, a Administração Portuguesa do Ambiente e o Porto de Aveiro, a “tomarem em devida conta as conclusões deste encontro e a dar-lhes sequência em decisões e acções concretas, com a urgência e os meios que a defesa do território recomenda”.