A Matemática que trata bem da Saúde
Compreender, estudar e evoluir na área da Saúde implica, em várias situações, analisar dados e usar conhecimentos de Matemática (de Estatística, por exemplo), como ficou bem patente durante a pandemia de covid-19.
A confluência desses conhecimentos aplica-se a muitos outros casos.
Como tal, o Mestrado em Estatística Médica da Universidade de Aveiro (UA) veio dar resposta à falta de profissionais com conhecimentos de Estatística em contexto de trabalho médico, epidemiológico, ou clínico.
Na apresentação, disponível no portal da UA, o curso é enquadrado do seguinte modo: “O Mestrado em Estatística Médica tem por objetivo formar especialistas que tratem os aspetos teóricos e práticos do planeamento de investigação e análise de dados médicos, biomédicos, epidemiológicos e desenvolvam e apliquem metodologias estatísticas necessárias à investigação em Medicina, Farmácia, Epidemiologia, Genética, e outras Ciências da Saúde.”
A médica Patrícia Martins, ortopedista no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, percebeu a necessidade de aplicar os conhecimentos de Matemática no dia-a-dia da unidade de saúde onde trabalha.
Concluiu o mestrado na UA, aplicando os conhecimentos de estatística a casos reais de doentes a quem foram aplicadas próteses do joelho, analisando os fatores potencialmente causadores de complicações clínicas.
“Ao aplicar estes conhecimentos procurei ajudar os pacientes a terem mais sucesso na recuperação após a cirurgia”, comenta a médica ortopedista. Alunos com diversa formação de base Embora esta formação, que já vai na sua sexta edição, tenha interesse para todos os profissionais de saúde tendo especial impacto na prática clínica, o leque de áreas de formação dos alunos tem sido bastante heterogéneo, aspeto que a diretora do curso considera muito positivo.
Vera Afreixo, professora do Departamento de Matemática da UA – unidade orgânica que leciona este mestrado com o Departamento de Ciências Médicas – refere ainda formações de base em Ciências Biomédicas, Enfermagem, Fisioterapia, Bioquímica, Física e Matemática, como as mais comuns nos alunos de Estatística Médica: “Os formados em Matemática preferem, habitualmente, a aplicação dos conhecimento por uma vertente mais estatística, enquanto que os médicos se servem dos conhecimentos adquiridos para consolidarem ferramentas de apoio à decisão e melhorar os procedimentos na prática clínica”.
Há outros casos igualmente paradigmáticos. Com frequência de três anos em Medicina, optando depois pela Matemática, Jorge Cabral é outro caso em que o mestrado em Estatística Médica pode ser considerado uma escolha natural.
Depois da conclusão do mestrado – na primeira edição -, prosseguiu pelo Programa Doutoral em Matemática Aplicada, apoiando na lecionação de algumas unidades curriculares em que foi aluno. No doutoramento aplica conceitos de Econometria a dados clínicos na área da Genómica e da sequenciação de genes.
Leonor Rodrigues teve outro percurso. É graduada em Bioquímica na UA e, após o mestrado em Estatística Médica (segunda edição), trabalha como bioestatística na IQVIA, empresa multinacional que fornece serviços na área da saúde, como por exemplo à indústria farmacêutica. Esta é uma área que tem acolhido a maior parte dos alunos com esta formação. Leonor Rodrigues considera que este curso “superou as expetativas que tinha inicialmente” e destaca o uso de dados reais colhidos do dia-a-dia da prática clínica.
“Os projetos desenvolvidos baseiam-se sempre em dados reais, incidindo a formação no tratamento a dar aos dados, no tipo de testes estatísticos e em como apresentar e discutir os resultados, o que contribui para uma maior confiança na atividade diária que cada um vai realizar”, refere Vera Afreixo.
Por outro lado, a diretora de curso salienta a relevância da literacia estatística, de saber analisar o tratamento estatístico dos dados, para saber ler um artigo científico na área da saúde e, assim, atualizar de modo eficaz os conhecimentos. “É preciso ter cuidado com os abusos no tratamento dos dados”, avisa a diretora do curso. “O mundo, lá fora, precisa de nós!”, afirma.
Quanto ao corpo docente do Mestrado em Estatística Médica, onde se cruzam membros dos departamentos de Ciências Médicas e de Matemática, é patente a interdisciplinaridade de áreas científicas.
A própria diretora de curso, com graduação em Matemática, doutoramento em Engenharia Eletrotécnica e agregação em Matemática/Estatística e Probabilidade, ou o docente Pedro Sá Couto (na foto), graduado em Matemática Aplicada à Tecnologia e doutorado em Engenharia Biomédica, que para além de membro do Grupo de Probabilidade e Estatística do Centro de Investigação e Desenvolvimento em Matemática e Aplicações (CIDMA), é também elemento do Centro de Simulação Clínica (SIMULA) da UA, referendo dois exemplos expressivos.
O grupo de Estatística Médica da UA tem colaborado com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), com o Centro Académico Clínico Egas Moniz (parceria que integra da UA) e com outras unidades de saúde em estudos de Saúde Pública e Epidemiologia e em eventos de debate e formação científica.
Texto e foto: UA