Cáritas diz que o país precisa de fazer mais no combate à pobreza.

A Cáritas de Aveiro assinala o Dia Mundial da Pobreza deixando referência a uma luta de sempre que está cada vez mais viva.

João Barbosa, dirigente da instituição realça os impactos da pandemia e a sua repercussão no “elevador social”.

“As desigualdades têm impacto na transmissão intergeracional da pobreza. Os filhos das famílias mais vulneráveis têm sempre maiores dificuldades no acesso social  a áreas como a saúde, educação, ocupação e rendimentos desejáveis”.

Em Portugal, 24,5% dos filhos de pais com mais baixos rendimentos terão igualmente baixos rendimentos, quando adultos.

E dos 55% dos filhos de operários ou trabalhadores manuais, 27,5% tornam-se, igualmente, operários, comparativamente com os 37,5% da média europeia. Assim, serão necessárias 5 gerações para que as crianças, nascidas neste contexto, alcancem o rendimento médio da população.

A população em risco de pobreza ou exclusão social aumentou 12%, o correspondente a mais 250.000 pobres, em cima dos dois milhões existentes.

“Apenas a Eslováquia, dentro da EU27, teve um aumento superior ao registado no nosso pais”, realça João Barbosa.

Com 22,4% em risco de pobreza ou exclusão social, Portugal passou a ser o 8.º pais da EU27 com maior proporção da população a viver este tipo de vulnerabilidade social e económica.

Portugal apresenta-se, assim, como o Estado membro, com maior aumento dos níveis de desigualdade, face ao ano anterior.

“Só um mercado de trabalho ,inclusivo e digno, tem um efeito protetor contra o risco de pobreza e promove a redução das desigualdades”.

A reflexão sobre o futuro leva o dirigente a refletir sobre as possibilidades de sucesso nesta luta.

“Mas temos de começar pela vontade politica. Sem ela, é impossível chegarmos a bom porto. Temos de ser mais ativos e eficazes. É certo que contamos já com a Comissão de Estratégia Nacional para a Pobreza nomeada em Dezembro de 2021, cuja Direção tomou posse 10 meses depois…, Outubro de 2022. O Objetivo da Estratégia é tirar 600 mil pessoas da situação de carência, até 2030. A nossa expectativa é enorme, muito embora os primeiros passos tenham sido lentos”.

A gratuitidade dos utentes das creches foi a primeira medida de maior visibilidade mas a Cáritas diz que é preciso ir mais longe.

“Temos que apelar ao desenvolvimento económico progressivo , inteligente, e ansiar por uma remuneração justa e condições de trabalho dignas para os nossos trabalhadores. Temos que apelar ao combate à evasão fiscal e à corrupção. Apelar a uma Justiça mais rápida e eficiente. Apelar para uma maior e melhor distribuição da riqueza, através da política fiscal”.

Outro dos temas é o envelhecimento do país como uma questão de sustentabilidade económica nacional.

“Enfim, há que avaliar o impacto das medidas de política económica na produção e a sua influência no agravamento ou na diminuição das condições de vida”.

 

 

Texto de João Barbosa inspirada na Mensagem do Papa Francisco.

 

Como ele diz : “A POBREZA é uma inquietação constante que a todos nós preocupa.”

Reflexão permanente e tão vasta que nos levaria a uma introspeção permanente.

Todas as pessoas, religiosas ou não, consideram o nosso Papa Francisco um HOMEM, católico sempre presente e atuante, com motivações que tocam o coração dos mais novos e dos mais velhos. Não podemos alhear-nos dos seus ensinamentos, frutos de uma experiência de vida generosa, rica e exemplar enquanto cristão.

Diz-nos ainda que “O dia Mundial dos Pobres” torna este ano numa sádia provocação, para nos ajudar a refletir sobre o nosso estilo de vida e as inúmeras pobrezas da hora atual.”

E a atualidade surge-nos bem complexa, com o tentar sair da violência que foi a pandemia e o enfrentar inesperado da guerra na Ucrania.

A sair da violência que foi a pandemia , eis que entramos na guerra da Ucrânia.

A inflação, a recessão estão de volta.

Aos pobres vítimas da pandemia juntam-se agora os vítimas da guerra.

Afirma ainda o nosso Papa Francisco “para onde quer que voltemos o olhar, constata-se que os mais atingidos pela violência sejam as pessoas indefesas e frágeis”.

Afinal, o que esperam de nós os indefesos e mais frágeis?E o que lhes podemos oferecer?

Há que apurar o nosso sentido de solidariedade , sem dúvida.

E continuando a citar o nosso Papa Francisco que” quanto mais cresce o sentido de comunidade e comunhão com o estilo de vida, tanto mais se desenvolve a solidariedade. E continua: como membros da sociedade civil, mantenhamos vivo o apelo dos valores da liberdade, responsabilidade, fraternidade e solidariedade; e como cristãos, encontremos sempre na caridade, na fé e na esperança o fundamento do nosso ser e da nossa atividade.”

A solidariedade é, afinal, partilhar um pouco do que temos com os que nada têm.

Sem perdermos tempo vamos arregaçar as mangas e praticar a fé, através de um envolvimento direto com os mais carenciados.

E o nosso apego ao dinheiro, o valor do dinheiro, não pode ser o nosso objetivo principal.

Há uma pobreza que nos torna ricos .Que paradoxo!

“A pobreza que mata é a miséria. A pobreza desesperada, sem futuro, porque é imposta pela cultura do descarte que não oferece perspetivas nem níveis de saída”.

É a miséria, que afeta também a dimensão espiritual.”

Onde estão, afinal, o salário justo e o horário de trabalho igualmente justo para ganhar o mínimo para se ter uma vida decente?

Todos sentimos que já estamos a enfrentar uma nova realidade social: um casal limpo, digno, ambos com o seu salário, com um ou dois filhos, dada a carestia de vida, não chegam ao fim do mês com dinheiro para suportar a renda da casa; não tem dinheiro para comprar uns óculos ao filho, que se quebraram e não têm possibilidade de mandar cuidar de um dente dos meninos…

É a tal pobreza envergonhada das pessoas sérias que, de um momento para o outro, não têm possibilidades de continuar a sua vida de acordo com alguma esperança num futuro melhor.

São, por isso, as Instituições de Solidariedade que abrem as suas portas também a estas famílias.

Na realidade os pobres ,antes de ser alvo da nossa esmola, são sujeitos que nos ajudam a libertar das armadilhas da inquietação e da superficialidade.”

Oxalá este VI DIA MUNDIAL DOS POBRES se torne uma oportunidade de graça, para fazermos um exame de consciência individual e comunitário, interrogando-nos se a pobreza de Jesus Cristo é a nossa fiel companheira de vida.”

Saúde e Paz