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Educação à Escuta

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Um programa da responsabilidade do CIDTFF da Universidade de Aveiro. Porque a diferença está na Educação e a Educação faz toda a diferença

Limites Invisíveis: uma abordagem educativa na natureza

23, Novembro 2020

Aida Figueiredo

A sociedade, nas últimas décadas, tem sido objeto de alterações sociais e económicas que implicaram alterações no estilo de vida das famílias e na gestão do tempo das crianças (Figueiredo, 2015a). Atualmente, a maioria dos pais e educadores privilegia, para a ocupação do tempo das crianças, as atividades estruturadas, organizadas e dinamizadas por adultos, maioritariamente desenvolvidas em espaços interiores, uma vez que, desde muito cedo, apresentam grandes preocupações com o sucesso académico das crianças, preocupações essas corroboradas, ou até mesmo originadas, pelas políticas educativas vigentes. Como consequência dessas decisões, o quotidiano infantil caracteriza-se por escassas oportunidades do brincar em espaços exteriores, designadamente na natureza, com sérias implicações na vida das crianças (Figueiredo, 2015a), embora, e de acordo com alguns estudos (Bergen, 1987; Frost, 1992; Stone, 1999), a maioria dos educadores considere o brincar como um processo natural de aprendizagem das crianças fundamental no processo educativo (Figueiredo, 2015b).

O brincar é um dos pilares do LI. Considerado por muitos autores como um fenómeno complexo, universal e presente na história da humanidade (Callois, 1961; Huizinga, 1955; Thelen, 1980), é referido como a base de todas as realizações do Homem, alicerce fundamental da cultura humana (Huizinga, 1955) e essencial à sobrevivência e reprodução da nossa espécie, uma vez que desenvolve capacidades/habilidades, designadamente significativa flexibilidade na variedade de respostas a situações mais complexas (Burghardt, 2005), como a que atualmente vivenciamos.

O brincar não é visto como um veículo para a aprendizagem, nem a natureza é vista como um cenário. O brincar é a expressão da interação da atribuição de significado da criança ao que a natureza lhe oferece.

 

A importância do contacto com o exterior, e em particular com a natureza, tem sido demonstrada por numerosos estudos (Dowdell, Gray & Malone, 2011; Thomas & Harding, 2011; Bohling, Saarela & Miller, 2012; Ruebush, 2009; Taylor, Kuo & Sullivan, 2001; Wilson, 2012; Louv, 2010) que evidenciam que o contacto sistemático e prolongado com a natureza tem benefícios a curto, médio e longo prazo na saúde e bem-estar, no desenvolvimento cognitivo, motor, emocional, da linguagem e responsabilidade ambiental. Segundo Gill (2014), as crianças que usufruem de um contacto considerável com a natureza demonstram níveis mais elevados de atividade física, de saúde mental e regulação emocional, conhecimentos mais vastos sobre a natureza e hábitos alimentares mais saudáveis, apresentando na idade adulta atitudes e sentimentos pró natureza e um forte sentido de pertença. Ainda segundo este autor, é urgente e imperativo o desenvolvimento de iniciativas preventivas que envolvam experiências/vivências da iniciativa da criança com a natureza de modo sistemático e prolongado, em idade precoce, como o Projeto Limites Invisíveis.

O Projeto Limites Invisíveis (LI), inspirado nos Forest/Wood ou Nature Kindergartens

(skovbørnehaver, naturbørnehaver) dos países escandinavos (Forest Schools nos países de língua inglesa), surge em 2016, sendo um projeto inovador em Portugal, promovido pela parceria entre a UA-DEP, o IPC-ESEC e o CASPAE (IPSS) com o apoio do ICNF. Os LI englobam 3 eixos centrais: 1) Intervenção Educativa, 2) Investigação/Monitorização e 3) Formação em contexto/Consultoria. No primeiro e segundo eixos, o projeto tem como foco a oferta educativa complementar à formal para crianças dos 3 aos 10 anos, desenvolvida em articulação com instituições de Educação de Infância e do 1.º Ciclo do Ensino Básico e ocorre em um espaço natureza – Mata Nacional do Choupal –, em Coimbra, e conta com uma casa abrigo cedida pelo ICNF – Casa da Mata.

O objetivo central dos LI é sensibilizar e motivar as crianças, as famílias e as comunidades educativas para a pertinência da utilização dos espaços exteriores, especificamente natureza, como contexto de promoção do bem-estar, do desenvolvimento e da aprendizagem através do  brincar, da exploração e da livre iniciativa. Cada criança é estimulada a vivenciar, a explorar e a experimentar o mundo que a rodeia de acordo com as suas capacidades, iniciativa, interesses e essencialmente de acordo com o seu tempo – tempo para serem crianças, para brincarem livremente, para explorarem, para colocarem questões e encontrarem as suas próprias respostas, bem como para se envolverem em interações de qualidade, estimulantes e promotoras de bem-estar. Tal como a criança, a natureza também precisa de tempo para se mostrar – para revelar a sua complexidade, os seus segredos, a sua diversidade, a sua magia e os seus encantos. Compreende-se, assim, que o tempo é uma dimensão essencial e transversal às crianças e à natureza. Atendendo ao paradigma “aprender na natureza”, defendido pelo Projeto Limites Invisíveis, e não “aprender com a natureza”, esta relação tempo-criança-natureza constitui-se como um elemento fundamental ao desenvolvimento de competências essenciais na infância de cada criança. O projeto LI evidencia um exemplo deste paradigma ao proporcionar tempo para as crianças experienciarem vivências/interações na natureza e construírem a sua própria infância.

Falando agora da Estruturação do projeto:

 

Eixo 1 – Intervenção Educativa - Neste eixo os LI integram duas modalidades de oferta:

1. Programas Casa da Mata (PCM) – Estes programas têm a duração de 8 semanas, de 2ª a 5ª feira, das 9h15 às 15h15, em período letivo. Os destinatários são crianças que frequentam uma organização de Educação Pré-Escolar, com idades entre os 3 e os 5/6 anos, sendo a sua participação uma opção das famílias. O grupo integra até 24 crianças, duas educadoras com formação especializada e duas auxiliares.

2. Um dia na Casa da Mata – dirigido a crianças da Educação Pré-Escolar e a alunos do 1.º CEB, decorre em um dia da semana, das 9h às 15h, em período letivo. O dia é construído em articulação com as equipas educativas, em formato de visita de estudo.

Eixo 2 – Investigação/Monitorização

A investigação está associada à execução dos LI e inclui uma perspetiva de interface:

Educação, Psicologia, Saúde, Ambiente e Atividade Motora. Até ao momento tem sido feita a monitorização dos PCM e algumas investigações de diferentes níveis, desde licenciatura, mestrado e doutoramento em psicologia e educação. Os resultados encontrados apontam para benefícios a curto, médio prazo nas crianças e nas famílias.

Eixo 3 – Formação/Consultoria

A compreensão por parte dos encarregados de educação/educadores/comunidade da importância do contacto sistemático e prolongado com a natureza para o desenvolvimento holístico e saudável das crianças afigura-se central nos LI, uma vez que permite fazer escolhas informadas e conscientes, bem como promover a mudança ao nível das perceções, atitudes e práticas educativas. As formações – em formato de workshops, formações acreditadas e visitas ao Programa Casa da Mata – são feitas em contexto, promovendo o desenvolvimento de um contacto mais direto entre os indivíduos e a natureza. Relativamente à consultoria e supervisão, visamos contribuir para a mudança dos espaços exteriores das organizações educativas, tornando-os mais ricos em elementos natureza, desafiadores e estimulantes para as crianças, mas essencialmente para que eles sejam percebidos como parte integrante do ambiente educativo e potenciadores de experiências significativas e autênticas para as crianças.

Links:

http://limitesinvisiveis.pt/pt/

https://www.facebook.com/limites.invisiveis/

https://www.ua.pt/cidtff/page/22927

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