O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), entidade gestora responsável pelo espaço florestal no perímetro de Ovar, vem a público explicar a operação de limpeza que está a indignar a população e coletivos locais.
Adianta que é necessário conhecer o contexto técnico-científico desta situação, para permitir uma melhor compreensão das medidas de gestão florestal que estão a ser realizadas no Perímetro Florestal das Dunas de Ovar.
E avisa que se não for assim a floresta corre sérios riscos.
Presente na conferência desta tarde, ao lado do autarca de Ovar, o vogal do Conselho de Administração do ICNF, Nuno Sequeira, falou da estratégia seguida de acordo com o Plano.
Explica que a intervenção que está em curso visa a “renovação dos povoamentos de pinheiro-bravo” e tem por base o “conhecimento científico e técnico consolidado sobre a ecologia e a silvicultura do pinheiro-bravo”.
O ICNF explica que dada a idade das árvores presente no PF das Dunas de Ovar, estas encontram-se, na sua maioria, num estado de transição entre as fases de maturidade e o fim do ciclo de vida (senescência), passando a partir desta altura a serem mais suscetíveis a pragas e doenças, assim como a elevada instabilidade física pelo que o seu corte cumpre também uma função de prevenção fitossanitária e de segurança de pessoas e bens.
Reforça a necessidade da intervenção salientando que se não for assim pode perder a “maioria das árvores por declínio biológico e/ou por redução da capacidade de competição com as espécies invasoras concorrentes”.
O vogal do ICF admitiu ainda que esta operação tem especificidades na linha de costa em defesa da orla costeira (com áudio)
Salvador Malheiro, autarca de Ovar, explica que o trabalho obedece a uma estratégia trabalhada com as entidades responsáveis e obedecendo a critérios científicos (com áudio).
O autarca negou ainda qualquer ligação entre a limpeza e qualquer intenção de dar uso imobiliário a parcelas de terreno.
O ICNF recorda que o Perímetro Florestal das Dunas de Ovar é uma propriedade municipal sujeita à servidão pública do regime florestal parcial e encontra-se sob gestão do ICNF, com exceção da área de uso militar (Aeródromo de Manobra nº 1) sob gestão da Força Área Portuguesa.
O referido perímetro florestal ocupa a área total de 2 584 hectares e divide-se pelo polígono Sul, com a área de 479 hectares, localizado entre a povoação do Torrão do Lameiro e a praia com o mesmo nome, e pelo polígono Norte, que compreende a área de 2 105 hectares (dos quais 515 hectares estão afetos a uso militar) e prolonga-se de Esmoriz ao Furadouro.
A intervenção, a cumprir em 10 anos, chega a cerca de 1% da área total, explicou o autarca de Ovar. "Não é abate massivo ", explicou Malheiro.
Uma oportunidade para assegurar, ainda, o controlo de invasoras lenhosas em 1 102 hectares, com o objetivo da reabilitação de habitats, redução do perigo de incêndio rural, promoção da diversidade ecológica e a valorização da paisagem.
Este processo prevê que a renovação dos povoamentos de pinheiro-bravo seja balizada por "cortes de renovação regulares, de ciclo anual e de pequena escala" (que rondam em média os 25 hectares por ano - 1,6% da área total), afastados das áreas sujeitas a processos de erosão costeira.
Aposta para aumentar a diversidade etária entre as manchas florestais desta espécie; constituir uma situação próxima do conceito do “mosaico florestal”, com sucessiva alternância das características (idade, desenvolvimento, composição florística, etc.) dos povoamentos; potenciar o acréscimo da resiliência global do ecossistema aos diferentes riscos em presença (incêndios, espécies invasoras, problemas fitossanitários, fenómenos meteorológicos extremos) e conservar e promover a biodiversidade, considerando a fauna e a flora característica dos diferentes estados de desenvolvimento dos povoamentos florestais.