A Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro (ADERAV) assume que vai estar “atenta” e “expectante” caso surjam novos dados sobre a ocupação humana no centro de Aveiro mas considera que o processo da obra da designada “Casa de 1616”, na antiga rua Direita de Aveiro, “está bem instruído”.
Uma reunião mantida com técnicos da autarquia e com o vereador da cultura e o estudo de todo o processo levam a ADERAV a concluir que importante é fazer cumprir as condicionantes emitidas por parte da Tutela na área do Património. “Reiteramos a expectativa com que aguardamos o resultado dos trabalhos prévios e asseguramos a seriedade com que acompanharemos todos estes desenvolvimentos”, adianta a direção da Associação que se dedica ao estudo e defesa do património.
Reconhecendo que as remodelações, reabilitações e reconversões são momentos de “oportunidade” para conhecer a evolução e o legado deixado pela comunidade de pessoas que viveram no mesmo espaço, a ADERAV defende que deve prevalecer uma lógica de “compromisso” e de “ponderação” entre o registo e preservação das pré-existências e as realidades novas a implementar nos mesmos espaços”.
A reconversão do edifício na Rua dos Combatentes da Grande Guerra, antiga Rua Direita, no centro de Aveiro, na ligação ao Fórum Aveiro, vai dar lugar a espaço habitacional com apartamentos de tipologia maioritariamente T0 e T1.
Perante críticas feitas pelo PS, em reunião de Câmara, e por cidadãos que reprovam o projeto pela dimensão apresentada, a ADERAV que valoriza o peso histórico do espaço admite que há mecanismos para assegurar a defesa do património.
“Certo que, dada a localização, bem no coração da antiga Rua Direita de Aveiro, permite inferir que, só muito dificilmente este espaço seria um vazio urbano em momento anterior. Mesmo que estejamos a falar de uma edificação ex nihilo de 1616, a sua localização, características arquitetónicas e soluções construtivas adotadas fazem dela um dos melhores exemplos da arquitetura civil dos inícios de seiscentos em Aveiro”.
O conjunto edificado em questão tem por particularidade adicional a sua relação de vizinhança que ainda hoje mantém com a Misericórdia de Aveiro, monumento classificado como Imóvel de Interesse Público, com respetiva Zona de Proteção, e que permite diligenciar de medidas de salvaguarda e análise dos impactes patrimoniais sobre imóveis classificados e dentro das suas ZP’s desde o momento da apresentação do anteprojeto de arquitetura à apreciação das entidades competentes e acompanhamento das fases seguintes.
Da reunião de 9 de Junho, a ADERAV tirou indicadores positivos sobre a evolução do projeto mas pediu informação sobre as condicionantes emanadas. “De facto, tanto a consulta da instrução do processo cedida pelos serviços camarários como a reunião sequente com a Direção Regional da Cultura do Centro, nos indicam que, do ponto de vista do cumprimento dos procedimentos legais e administrativos, tudo estava a ser bem conduzido, havendo inclusive já uma alteração significativa entre a primeira proposta apresentada a apreciação e aquela sobre a qual a DRCC havia já emitido parecer vinculativo, dando conta da aprovação condicionada do projeto nesta fase, apontando contudo condicionantes de natureza arquitetónica e arqueológico-patrimonial, como seria de esperar na área onde a parcela a reconverter urbanisticamente se inscreve”.
A leitura do Parecer técnico que a DRCC emanou sobre esta intervenção aponta para a obrigatoriedade da realização de um conjunto de trabalhos de caracterização histórico-arqueológico-patrimonial, prévios ao início da obra.
Destaca-se “a pesquisa bibliográfica, documental e cartográfica do edifício-quarteirão e área circundante; intervenção arqueológica prévia, de caracterização e estudo do edificado a intervencionar, no domínio dos princípios e regras da disciplina da Arqueologia da Arquitetura, procedendo de igual modo ao princípio da preservação pelo registo científico da situação de referência inicial do espaço a intervencionar (registo fotográfico, gráfico e topográfico); sondagens arqueológicas prévias nas áreas disponíveis, conducentes a uma melhor caracterização do potencial arqueo-estratigráfica da área, presença de pré-existências, estado e extensão de preservação”.
A ADERAV diz que depois do relatório técnico que será submetido e apreciado pela Tutela poderão surgir alterações ao projeto final de arquitetura. Já em momento de execução de empreitada deverá ser assegurado o devido acompanhamento arqueológico de todos os trabalhos. Com estes passos e com o interesse demonstrado, a ADERAV diz estar atenta ao desenrolar do processo para que se cumpram os pressupostos estabelecidos.