Ulisses Pereira despede-se da Assembleia da República ao fim de 10 anos como deputado e na hora do balanço afirma-se orgulhoso de ter partilhado com outros deputados portugueses um lugar na casa da democracia.
“Tenho muito orgulho nestes dez anos que servi Portugal como Deputado à Assembleia da República. Na defesa também dos interesses do meu círculo eleitoral, o círculo de Aveiro, onde nasci, cresci, me fiz homem e político, onde comecei também a envelhecer. Com muitas batalhas ganhas (muitas delas de forma silenciosa, quase anónima), outras que se encontram ainda em curso (e espero que tenham devido sucessor), outras infelizmente perdidas (algumas de modo inglório)” (com áudio).
Na hora do adeus falou da importância de acabar com “espartilhos regimentais” e de “disciplina partidária” ou pelo menos “aligeirar” para reforço da imagem da instituição parlamentar.
“Todos nós temos a obrigação de não nos acantonarmos na trincheira do temor mediático ou do politicamente correto, que muito tem contribuído para a descredibilização da classe política. Passo atrás, mais passo atrás, temo-nos aproximado do abismo de um populismo crescente, à esquerda e à direita, que só pode ser enfrentado com argumentos, com razão, com visão de futuro, mas também com a coragem de defender aquilo que são os nossos princípios e valores, sejam eles quais forem” (com áudio)
Deixou uma mensagem sobre o papel dos políticos e apelou à reforma das regras de funcionamento para acabar com a imagem de deputados como “funcionários” do sistema.
“Para isso é necessário dizer não às propostas que visam a nossa funcionalização e a todas aquelas que pretendem responder passivamente, acefalamente, à visão demagógica dos que constroem a imagem dos benefícios excessivos da classe política. Para isso é necessário reduzir o número de plenários, e dar-lhes o conteúdo dos grandes debates políticos e das iniciativas legislativas estruturantes, não o inundando de discussões técnicas.
É necessário reforçar o trabalho nas Comissões Parlamentares Especializadas, conferir-lhes mais visibilidade e reconhecimento pelo trabalho desenvolvido. É necessário reformular os processos de votação, ponderando quais devem ser efetuados em sessão plenária e aqueles que poderão ser concretizados noutra sede”.
O último discurso em plenário deixou elogios aos funcionários da Assembleia da República e aos assessores e assistentes de todos os Grupos Parlamentares.
E não esqueceu a sua área de intervenção, com presença na comissão dos assuntos do mar, com intervenção no setor das pescas e em questões relacionadas com a aquacultura.
No tempo em que a divisão entre Esquerda e Direita mais se acentuou, Ulisses Pereira quis deixar uma palavra pacificadora em nome do bem estar dos cidadãos (com áudio).
“A Assembleia da República é a casa dos sonhos de abril. Aqui se cumprem, e têm de cumprir, a cada dia, as expetativas dos que acreditam que a democracia representativa é a garantia de uma sociedade justa, solidária e inovadora. Uma sociedade que alia a iniciativa privada com a justa redistribuição da riqueza produzida na comunidade. Uma sociedade que assegura que ninguém fica para trás, no trabalho ou na doença, por porvir de um meio desfavorecido. Uma sociedade que está aberta aos desafios sociais, científicos e tecnológicos, próprios do nosso tempo”.