UA em consórcio europeu dedicado à defesa da orla costeira.

2023-04-14 07:13

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A Universidade de Aveiro está entre os coordenadores de projeto da ESA para combater erosão costeira.

Especialista em biodiversidade e monitorização costeira, a empresa i-Sea, sediada em Bordéus, é líder do consórcio Space for Shore, financiado pelo ‘ESA Coastal Erosion’ (investimento de 4milhões de euros), um programa europeu lançado em 2019 sob a égide da Agência Espacial Europeia (ESA).

A Universidade de Aveiro (UA), parceira do consórcio, é coordenadora regional em Portugal deste projeto.

Com base na observação por satélite da zona costeira, para prevenir e mitigar a erosão costeira, o programa está a chegar ao fim e os resultados são considerados “muito promissores”.

Durante 4 anos, mais de 70 organizações científicas e de gestão costeira dos 6 países membros do programa (França, Alemanha, Portugal, Grécia, Roménia e Noruega) partilharam as suas preocupações e expressaram a necessidade de dados e informações regulares para caracterizar a dinâmica do litoral, para avaliar a evolução do risco de erosão e a vulnerabilidade das zonas costeiras às alterações climáticas.

Este trabalho permitiu cobrir 4.500 quilómetros de costa nestes 6 países, desde as costas do Mediterrâneo e do Mar Negro, passando pela costa do Atlântico-Canal da Mancha-Mar do Norte, até ao Ártico (Arquipélago de Svalbard).

Dado o volume de dados produzidos, a automação e a generalização de algoritmos têm sido a pedra angular deste trabalho em larga escala.

A inteligência artificial tem sido amplamente utilizada para monitorização de elevada frequência de grandes, diversas e complexas áreas costeiras por um longo período histórico.

Uma retrospetiva de mais de 25 anos foi compilada, descrevendo as mudanças históricas e recentes que afetam as costas europeias usando dados de satélite, incluindo os do programa europeu Copernicus (Sentinel-1 e Sentinel-2).

Este recurso exclusivo de dados de satélite fornece produtos que descrevem a dinâmica do litoral em termos de posição da linha de costa, evolução e balanço sedimentar, bem como a caracterização da exposição à erosão costeira.

Para confirmar o “grande potencial” dos resultados, as entidades responsáveis pelo estudo e gestão costeira – Serviços do Estado e gestores de áreas naturais protegidas – puderam utilizar, avaliar e comparar indicadores de erosão costeira produzidos no seu território com as medições de campo altamente precisas, mas em pequena escala, sob a supervisão de atores científicos regionais envolvidos na rede nacional de observatórios costeiros.

O trabalho final foi amplamente partilhado com a comunidade científica especializada durante uma sessão especial na Conferência Europeia Living Planet Symposium, organizada a 24 de maio de 2022 em Bona (Alemanha) pela ESA.

Estas novas ferramentas são consideradas alternativa ou suporte aos métodos tradicionais de monitorização da evolução de praias e costas (monitorização de campo, fotografia aérea), num contexto das mudanças climáticas e de rápida evolução, fornecendo uma relevante visão multi-escala dos processos que afetam as zonas costeiras e uma significativa mais-valia para os gestores costeiros, ao disponibilizar dados permanentemente atualizados e a um custo reduzido sobre todo o território.

Este ano, a ESA apoia uma nova fase do projeto: a sensibilização das comunidades costeiras e dos decisores sobre o interesse destas ferramentas e a sua apropriação.

Para tal, após uma série de seminários públicos realizados em 2020 e 2022 nas regiões piloto (que reuniram cerca de 200 participantes), a i-Sea e os seus parceiros irão organizar sessões de formação nos 6 países europeus na primavera de 2023, bem como como um grande seminário sobre erosão costeira e dados espaciais em junho, na região de Hauts-de-France (única região francesa não abrangida pelo programa ESA coastal erosion).

Esta nova fase do projeto é, de fato, crucial, para Portugal tendo em conta a grande exposição da zona costeira às condições de elevada energia da ondulação do Atlântico Norte, e onde se estima que, até ao final do século, a erosão possa colocar em risco centenas de milhares de pessoas que vivem no litoral.