Se esta rua fosse minha

Conhece a Rua Manuel Bolais Mónica situada em Ílhavo? E a Rua Mestre Mónica na Gafanha da Nazaré? Duas placas toponímicas, mas um só homenageado - Manuel Maria Bolais Mónica.

Manuel Bolais Mónica nasceu a 11 de junho de 1889, em Ílhavo, na Rua de Alqueidão e era filho do construtor naval, José Maria Bolais Mónica e de Joana Loreta.

Em 1908, após terminar a escola primária, embarcou no lugre Atlântico, para a pesca do bacalhau. Mas, na primeira década do século XX, o seu espírito empreendedor e visionário fez com que regressasse aos estaleiros do pai e seguem ambos para a Figueira da Foz, onde havia melhores perspectivas de trabalho no setor da construção naval.

Em 1913 regressou à Gafanha da Nazaré, onde se casou com Maria Ramos, com quem teve 4 filhos. Aí reabriu os antigos estaleiros do pai e, com apenas 27 anos, supervisionou a construção do navio Adília, cujo bota-abaixo teve lugar em 1916.

Tirando partido da revitalização da pesca do bacalhau lançada pelo Estado Novo, muitas foram as embarcações que até 1936 lançou à água na Gafanha. Contam-se mais de 25 lugres.

A sua perícia como construtor naval foi reconhecida por ocasião do bota-abaixo do lugre Brites. Com isto foi condecorado com a Medalha de ouro e com o grau de Oficial de Mérito Agrícola e Industrial pelo Ministro do Comércio, Teotónio Pereira. Também foi convidado a reconstruir a Nau Portugal para figurar na Exposição do Mundo Colonial Português. Porém, este projeto foi um fracasso porque a embarcação virou, ao chegar à água, por razões que Bolais Mónica atribuiu ao projeto de engenharia.

Este episódio poderia abalar a sua reputação. No entanto, em 1941, o Presidente da República, Óscar Carmona, atribuiu-lhe a Comenda da Ordem de Cristo, em reconhecimento do seu trabalho a favor da nação.

Na verdade, os estaleiros do Mestre Mónica continuaram a prosperar durante a II Guerra Mundial. O Mestre Mónica e o seu irmão António (que também tinha um estaleiro na Gafanha da Nazaré) ajudaram a construir 6 draga-minas para a Marinha Inglesa.

Já em 1956, as entidades governamentais convidaram-no a construir a Nau Vicente, como embarcação modelo para a indústria e comércio nacionais.

Sempre atento a novas oportunidades de negócio, o Mestre Mónica tentou diversificar os seus investimentos. Inclusive, adquiriu uma moagem. Envolveu-se ainda nas questões do quotidiano gafanhense, lutando para que a Gafanha progredisse. Esteve envolvido na criação da Cooperativa Elétrica da Gafanha.

Faleceu em julho de 1959, com 70 anos. Como forma de o homenagear, a população e o Município criaram um Monumento, na Gafanha da Nazaré.

Testemunho:

Iremos escutar agora dois testemunhos de vivências nas ruas que hoje celebramos: o Sr. António Bizarro que recorda as traquinices da sua juventude e a Dona Cecília Correia que nos transporta até ao momento da chegada dos navios bacalhoeiros e da descarga do bacalhau nas secas.